O dia seguinte

Apesar dos esforços de grande parte da comunicação social portuguesa, ainda não foi desta que a direita liberal conseguiu a tão almejada maioria absoluta, que lhe permitisse implementar o seu programa politico e económico.

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No momento em que escrevo este pequeno texto, ainda não são conhecidos os resultados dos votos da emigração. Admitindo que o histórico tem sido um empate entre PSD e PS, vou dar de barato que esta divisão de deputados a eleger se manterá. Contudo é bom frisar que nas eleições anteriores, em 2022, muito por culpa do PSD, a consulta popular no circulo da Europa teve de ser repetida, sendo o partido da S. Caetano penalizado por isso, com o PS a arrecadar a seu favor as duas vagas para deputado disponíveis por este circulo.

No ultimo domingo, o habitual festejo do vitorioso da noite, a seguir à contagem dos votos, ficou-se por um sorriso amarelo, com amargo de boca. Uma vitória de Pirro. Mas o melhor foi o exército de comentadores a pedir responsabilidade ao maior perdedor das eleições, o PS, eles que nunca exigiram essa reciprocidade caso o vencedor tivesse sido outro.

O PS de Pedro Nuno Santos perdeu. Muito por culpa do legado deixado pelo anterior primeiro-ministro, António Costa, que quis fazer um brilharete nas contas públicas. Fosse ele o deficit, fosse a dívida. Contas essas que afinal para a direita nada interessaram. Ou melhor, só interessam quando a retórica é malhar na esquerda por causa do suposto despesismo.

O resultado destas eleições serve para os dois maiores partidos refletirem. Sem arrogância e com sentido critico. Sem desculpas esfarrapadas. O povo não é assim tão néscio como muitas vezes nos querem fazer crer.

O PS, goste-se ou não dele, é o maior partido português. O único em 50 anos de democracia que sempre concorreu sozinho. Sem muletas. Em primeiro lugar os socialistas devem ponderar como foi possível perder em dois anos, meio milhão de eleitores.

Em segundo, o PSD também tem de fazer uma forte introspeção. De facto, olhando para os resultados eleitorais até ao momento, a manter-se esta diferença, não me recordo da AD ou PàF, ou qualquer outra coligação que integrasse PSD, CDS e PPM, ficar com números tão baixos numa eleição desta importância. Dito isto, o país ainda não se esqueceu de Passos Coelho como chefe de governo, nem de Luís Montenegro como seu líder parlamentar, apesar dos esforços deste por dar uma nova roupagem à direita liberal, com promessas que não convenceram os eleitores. Foi o Chega quem absorveu o descontentamento do eleitorado pela governação passada da PàF, bem na memória de alguns, tal como da maioria absoluta de Costa, obcecado com o deficit zero.

O Chega é um partido populista com raízes no mais profundo preconceito ideológico que o fascismo de braço dado com os sectores mais conservadores da igreja católica promoveram, em associação com uma elite que acha a democracia liberal um estorvo para os seus intentos. Um pouco como as cuzadas na Idade Média. O Chega explora como poucos o sentimento de abandono por parte dos poderes instituídos, daqueles que pelas mais variadas razões, muitas delas até de saúde, ficaram de fora das benesses do regime. O caso das policias é um bom exemplo. Tudo porque ao contrário da PJ, onde a maioria dos seus quadros tem formação académica superior, os governos continuam a achar a PSP, a GNR e Guardas Prisionais, uma espécie de sipaios coloniais, cuja função é manter o povão alinhado na praça publica.

Na prática o que o eleitorado nos disse foi que as contas têm de estar certas, sim, mas não à custa dos mesmos.

Declamando Sérgio Godinho:  

Aí
Só há liberdade a sério
Quando houver
A paz, o pão, habitação
Saúde, educação
Só há liberdade a sério quando houver
Liberdade de mudar e decidir
Quando pertencer ao povo o que o povo produzir
E quando pertencer ao povo o que o povo produzir
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