A ascensão da direita e extrema-direita pode ter algumas razões sociais e políticas, não só em Portugal como no resto do mundo. Não devemos isolar os casos de Trump, Bolsonaro, Milei, Orbán ou Ventura. É tudo farinha do mesmo saco. E sacos há vários: Facebook, Instagram, X, Telegram, etc.
Através da mentira, da deturpação, estes personagens utilizam as redes sociais para ampliar o que dizem, sem contraditório. Com o paulatino desaparecimento do jornalismo, dos meios tradicionais de comunicação social, a net é o campo onde se disseminam mensagens em que vence quem gerar maior exaltação e medo. Por isso eles gritam tanto.
O segredo é chamar a atenção, atrair público. As redes sociais gostam disso e passam a privilegiar esses conteúdos. Não importa se são mentirosos, porque geram dinheiro. Quem fatura com a monetização não é só o produtor/protagonista – mas as próprias redes sociais, que racham o lucro com quem cria conteúdo. Assim, se um perfil dá lucro – não importa se fomenta violência, racismo, ódio, se mente – as empresas que gerem as redes sociais passam a promove-lo para aumentarem o seu próprio lucro.
Por exemplo, a agência Bloomberg dá como provável que a campanha presidencial de Trump vá ser financiada por Elon Musk, o dono da rede X.
Chegados aqui, temos de concluir que não há volta a dar ao problema, apenas enfrentá-lo. As leis regulamentadoras das redes sociais podem ser importantes, mas dificilmente serão a solução.
Se a direita nada bem neste mar de gritaria, a esquerda tem de nadar melhor. É um regresso à militância política, desta vez pela partilha de conteúdos, pelos likes e pelo combate à guerrilha direitola que se manifesta nas caixas de comentários. Se continuarmos a ser preguiçosos e paternalistas, eles vão vencer. Quando chegarem ao poder, vão dar cabo disto tudo: do Estado social e das liberdades e direitos democráticos. O falhanço do capitalismo está a provocar o caos de onde eles pretendem ressuscita-lo de novo.
No caso português, os financiadores do Chega sabem bem o que andam a fazer.