Está a agravar-se a crise política na Guiné-Bissau, desencadeada no final do ano passado com a detenção judicial de dois membros do Governo, confrontos armados nas ruas e a posterior dissolução do parlamento.
Três dos principais partidos políticos estão em convulsões internas, de tal modo que o Presidente da República anunciou que se desvincula do seu próprio partido, o Movimento para a Alternância Democrática – Grupo dos 15 (MADEM-G15).
“O nivel do desentendimento que se regista agora é muito preocupante e está a ser difícil de resolver, por isso o Presidente da Republica, General Umaro Sissoco Embaló, decidiu agora cortar toda a sua relação com o MADEM”, afirmou uma fonte do MADEM à rádio Voz do Povo.
No MADEM, os contestatários acusam o coordenador Nacional do partido, Braima Camará, de falta de democraticidade, assumindo “uma postura antidemocrática.” Braima Camará terá mandado prender o deputado Bamba Banjai, no passado dia 27. Apesar do parlamento estar dissolvido, os deputados eleitos mantêm os previlégios de imunidade e a polícia não o podia reter. A queixa contra Bamba foi apresentada por Sandji Fati, outro deputado e dirigente do MADEM. Segundo notícias veiculadas pela Deutsche Welle (Voz da Alemanha), o Presidente terá tentado mediar este conflito interno e, tendo falhado, decidiu afastar-se.
Algo semelhante se passa no Partido da Renovação Social (PRS), terceiro partido mais votado nas últimas eleições, onde um grupo de dirigentes exige a convocação do congresso e acusa o presidente interino, Fernando Dias, de assumir uma postura antidemocrática.
Ou seja, dos três maiores partidos da Guiné-Bissau, nenhum se livra de problemas internos. O PAIGC está igualmente dividido. Sinal disso é o facto de vários dirigentes desse partido integrarem o atual Governo de inspiração presidencial, mesmo sendo o PAIGC o “farol” da oposição política ao Presidente. São os casos de Ali Hijazi, Secretário Nacional do PAIGC (2ªfigura do partido), que é o atual ministro da Função Pública, de Carlos Pinto Pereira que transitou do anterior Governo para o atual com a mesma pasta dos Negócios Estrangeiros e, ainda, José Catlos Esteves, ministro dos Transportes. Todos do PAIGC e todos a contrariar a vontade do líder Domingos Simões Pereira ao terem aceite participar no atual Governo.
Tudo isto faz duvidar que as eleições antecipadas possam ser realizadas em curto espaço de tempo. O Presidente ainda não propôs uma data para a realização de eleições. Os cadernos eleitorais precisam de ser atualizados, estamos em março, a época das chuvas começa em maio, será difícil organizar eleições entretanto. Ou seja, tudo deverá ficar para depois, talvez só no final de 2024.
A Guiné-Bissau, actualmente, tem um Governo de iniciativa Presidencial que conta com a participação de diversos partidos, incluindo o PAIGC que ali está representado por figuras importantes, como é o caso, por exemplo, do ministro dos Negócios Estrangeiros que pertencia ao Governo que foi demitido em consequência da dissolução da Assembleia Nacional.
(atualizado às 13:16)