A nossa democracia está prestes a comemorar 50 anos de vida. Também os debates televisivos entre candidatos ou partidos políticos estarão a celebrar os seus 49 anos de existência. Devem ter começado com a Assembleia Constituinte de 1975.
Portugal vinha de uma ditadura com 48 anos de regime fascista. A sociedade portuguesa estava faminta de liberdade. Desejava um profundo debate de ideias e troca de argumentos políticos, em face da sua absoluta ignorância sobre as ideologias e a economia em geral. Tínhamos um longo caminho a percorrer. Percurso esse onde se alinhavam os vencedores do 25 de Abril e os perdedores, que com alguma argúcia se reorganizaram em partidos liberais e democratas cristãos, prometendo juras eternas à democracia e ao Estado Social.
Nos anos a seguir ao 25 de Abril o debate ideológico sobre o futuro de Portugal e da Europa gerava na sociedade uma excitação e uma participação muito forte. Estávamos no período da chamada Guerra Fria. Para além do que se passava cá dentro havia uma envolvência muito forte do exterior, que acabava por condicionar também a nossa existência. Os debates pré-eleitorais só eram ultrapassados em termos de audiências, pelas telenovelas brasileiras, que apareceram no final dos anos 70, como uma novidade recreativa, aos serões.
Portugal entrou para a CEE em 1986. Depois disso, entrou para a moeda única, substituindo o escudo pelo euro. Mais tarde aderiu ao espaço Shengen. Com tudo isto, a nossa independência como Estado foi-se transferindo para uma interdependência entre Nações. Perdemos autonomia. Prescindimos de decidir por nós próprios.
A par destas perdas de soberania a partir do inicio do seculo XXI, com a generalização, primeiro da internet, e, posteriormente, com o aparecimento das chamadas redes sociais, a forma de comunicação de massas levou uma reviravolta monumental. A crise no jornalismo e dos meios de comunicação social em geral, não estão dissociados deste fenómeno. Pelo contrário, são as primeiras vitimas. Depois seremos nós próprios, com a desinformação, fora deste quadro clássico.
Hoje a maioria das pessoas são formatadas através das redes sociais para um conjunto de “verdades alternativas” construídas na base da manipulação e da mentira. Pessoas essas que se auto excluem do modelo tradicional de informação e comunicação social. Daí as sondagens falharem como nunca. Há uma parte oculta da sociedade que foge ao modelo tradicional dos estudos de opinião.
O modelo de debate televisivo, por outro lado, acaba por ser mais um instrumento de propaganda, quando não se resume apenas a um lavar de roupa suja e ataques pessoais, onde as verdadeiras questões que nos interessam a todos como entidade coletiva, ficam por debater e esclarecer.
Tenho para mim, que pouca gente altera o seu sentido de voto com os debates televisivos. Não é isso que as conforta. As pessoas mudam sim, quando se sentem excluídas de uma solução que lhes traga segurança e previsibilidade. Uma boa parte dos reformados continuará a votar nos partidos à esquerda, até por não ter capacidade reivindicativa, mesmo depois de todas aquelas trapalhadas do governo, nestes dois anos de maioria absoluta. É bem provável que muitos jovens a trabalhar a recibos verdes, com empregos precários, bem como à procura de casa, votem em partidos que lhes prometam outras soluções que este governo não lhes proporcionou. Até podem nem acreditar muito nelas, mas estão dispostos a mudar o seu sentido de voto por frustração.
Para minimizar esta perda de audiências, há que no mínimo alterar o modelo de debate televisivo, alargando o tempo disponibilizado a cada candidato, para 20 minutos, procurando que cada um deles, nos primeiros 15 minutos, só possa explanar e abordar as suas ideias e o seu modelo de governação. Que procure explicitar sucintamente as suas propostas politicas e económicas, mas sem contraponto às do interlocutor. Os 5 minutos finais serão dados aos intervenientes para criticarem as propostas uns dos outros, bem como as suas ideias politicas.
Se não formos para uma solução deste género vai ser muito difícil os debates alcançarem o seu objetivo. Esclarecer o eleitor.
(neste link: 2º parte deste artigo)