Primeiro, trabalhou nas estufas de hortícolas de Almeria, no sul. Trabalho sazonal e mal pago. Os proprietários espanhóis têm cães treinados para ladrar e rosnar, se um trabalhador abranda o ritmo por instantes para endireitar as costas, diz Babou ao repórter Charlie Devereux da agência Reuters.
Sobrevivia mal. Em 2008 quase morreu de fome, nesse ano só conseguiu trabalho durante três semanas. A sorte de Babou mudou quando soube que havia falta de pescadores numa terreola chamada Burela, no norte da Galiza.
Pescador sempre tinha ele sido no Senegal, desde criança. E por lá teria ficado se o mar não tivesse ficado sem peixe. O peixe desapareceu devido à pesca excessiva praticada, principalmente, pelas frotas da China e da Europa, que operam nas águas senegalesas ao abrigo de acordos de pesca firmados com o Governo local.
Por exemplo, a União Europeia paga ao Senegal 1 milhão e 700 mil euros por ano pelos direitos de pescar cerca de 10.000 toneladas de atum. Na verdade, ninguém controla a quantidade de peixe capturado. Babou pergunta “o que é que os senegaleses ganham com isto?”. “Retiram recursos aos africanos e agora dizem que os africanos que chegam à Europa são uma dor de cabeça.”
Nos barcos de pesca de Burela há gente de 44 nacionalidades. A maioria são asiáticos da Indonésia. Depois há algumas centenas de cabo-verdianos e 90 senegaleses. Também há alguns portugueses, mas cada vez menos. Os europeus fogem deste tipo de trabalho duro e perigoso. Preferem trabalhar nas fábricas em terra firme. Os trabalhadores estrangeiros constituem cerca de sete em cada dez tripulantes da frota pesqueira de Burela. Babou trabalha a bordo do Sarridal.

A bordo do Sarridal, trabalha-se por turnos de 14 horas. Há sempre tarefas para cumprir, desde a preparação do aparelho de pesca até à recolha e armazenamento do peixe no porão frigorífico. O capitão do barco, Francisco Gonzalez, diz que a indústria pesqueira espanhola não pode sobreviver sem migrantes. “Há poucos jovens espanhóis, por isso o futuro está na formação de imigrantes.”

Mas mesmo com trabalhadores como Babou Diouf, a indústria pesqueira espanhola pode não sobreviver. Em Burela, cerca de metade da frota pratica a pesca com palangre, um aparelho armado no fundo do mar, que a União Europeia pretende proibir para evitar a extinção de algumas espécies de peixe, como será o caso da pescada, por exemplo.
Babou Diouf não quer voltar a ter de peregrinar à procura de um modo de vida. Casou com a espanhola Silvia e tem duas filhas, Itziar (11 anos) e Saly (2 anos), a mais velha de um primeiro casamento da mulher. Nas horas vagas está a aprender a manusear motosserras e a conduzir camiões. Quando a pesca acabar, será madeireiro ou camionista. “Tem sido assim toda a minha vida”, diz ele. “Durmo quando posso, não quando quero.”

Hoje, ao ver na televisão notícias de migrantes senegaleses a chegar às Ilhas Canárias, lembra-se da mesma viagem perigosa que empreendeu há 18 anos e do árduo caminho que o levou até Burela, na costa norte de Espanha. Se há alguém que merece viver ali em paz, é ele. E todos os outros como ele.

Em 2006, Babou pagou 500.000 CFA (francos da África Ocidental, cerca de 900 neuros) por um lugar numa piroga de traficantes da Mauritânia. Em 2023, cerca de 7 mil pessoas morreram ao tentar a travessia de África para a Europa. Babou não fica indiferente a isto. “Atravessamos o oceano, sem saber que vamos enfrentar a morte.”
(fotos de Nacho Doce para a Reuters)