A fotografia de Francisco Pinto, jornalista, polivalente, que trabalha para a LUSA (com uma pequena avença), vale por mil palavras. É uma frase feita, mas não há outra para um retrato tão eloquente do que é o abandono do interior do país.
Todos sabemos que nada é eterno e que as mudanças são boas ou más, dependendo dos pontos de vista. Mas o isolamento de territórios e populações não pode ser bom. É deprimente, não só para o ânimo das pessoas como para a economia dos territórios.
Houve um tempo em que deu jeito aos governantes mandar rasgar autoestradas e abandonar a ferrovia. Os fundos europeus pagavam o alcatrão. Foi a época de grandes contratos com as construtoras de obras públicas, embora as autoestradas tivessem todas acabado nas mãos dos privados com contratos de concessão sem risco, em que o Estado garante a viabilidade do negócio, independentemente do uso que a via tenha.
Voltando à fotografia. A Estação de Mogadouro, Linha do Sabor. A realidade pode ser horrivelmente bela.
Dou-te inteira razão, Carlos: «horrivelmente bela!»
Não resistiram enquanto não acabaram com as linhas férreas.
Chega a ser criminoso o abandono deste património arquitectónico tão belo. E
há lugar para conjecturas tremendas: será uma forma de o levar a tal estado de ruína, que só reste a demolição para justificar o abandono das ferrovias, ou a implantação de outros empreendimentos?
Ainda ontem se discutia, na Casa da Comarca da Sertã, o interesse de um livro intitulado SIPOTE, Uma Aldeia do Pinhal, da autoria do investigador Luís Manuel Farinha, que como tantas aldeias no país, acabou por ficar refém do isolamento.
Onde já houve vida comunitária (ali e em outras paragens) de pobreza, mas sem fome nem exclusão social porque funcionava a entreajuda, ficaram terrenos por limpar abandonados às silvas e aos troncos secos, que as chamas vão devorando todos os anos.
É a destruição dos ecossistemas, a degradação da economia, a fuga dos mais velhos para zonas urbanas onde acabam os dias em residências fechadas como prisioneiros longe das referências.
Quem governa (mal) nunca assume culpas e a impunidade é uma erva ruim que cresce desalmadamente neste país.