Um pouco por descargo de consciência, perscrutámos o que havia de especial para ver nesse Sudeste londrino. E chamou-nos a atenção um estranho Horniman Museum and Gardens, em Forest Hill… O dia estava chuvoso, mas de autocarro não era longe.
Deparámo-nos com um edifício austero. Soubemos que fora encomendado em 1898, inaugurado em 1901, com projeto de Charles Harrison Townsend.
Passeámo-nos primeiro pelos jardins, pois, embora ligeiramente cacimbasse, muitas famílias por ali andavam também.
Aqui e além, um banco dedicado à memória de um benemérito. Estas instituições, em Londres, vivem muito da benemerência e, se a entrada no museu é gratuita, sugere-se que o visitante deixe um óbolo para a sua manutenção. Bancos em honra de beneméritos ou de simples cidadãos, este falecido de provecta idade, aquele ainda não chegara aos 40 quando a morte o surpreendeu… Memoriais, exemplos, testemunhos – que o banco de jardim consubstancia, de facto, eloquente convite à contemplação da Natureza, nomeadamente aqui onde houve o cuidado de reunir exemplares exóticos de plantas e de árvores, algumas de grande porte, devidamente identificados para que os visitantes os apreciem.
Admiravam os mais novos os galinheiros, os patos, os lamas (pessoalmente nunca vira um ao vivo…), pois a cidade-cidade não mostra galinhas ao vivo nem deixa ouvir o cantar do galo nem o gluglu do peru. Neste parque em pleno subúrbio urbano, bem arborizado, sentíamo-nos como que numa quinta rural…
Estando no topo duma colina, abarcava-se dali larga extensão da cidade, até as torres de algumas igrejas e da catedral se logravam identificar, assim como o famoso arranha-céus desenhado pelo arquiteto uruguaio Rafael Vinoly, concluído em Abril de 2014 e conhecido como o “Walkie-talkie”, eleito o “edifício mais feio do Reino Unido”, com os seus 160 metros de altura e 34 pisos. Um panorama impressionante sobre a vasta metrópole londrina.
Mas a curiosidade maior pendia, sem dúvida, para o Borboletário. Num ambiente meio tropical húmido, vagueámos mui devagarinho por entre borboletas dos mais variados tamanhos e cores. Cuidado, não pises aquela! Olha, tens uma nas costas! Adultos e crianças se maravilhavam. Em pratos com pedaços de fruta e outros gulosos acepipes, poisadas de asas fechadas, saciavam-se umas quantas, enquanto outras voavam por aqui e por ali e poisavam de asas abertas como a pedir para as fotografarmos. Que riqueza! Num recanto, o ‘puparium’, a creche onde havia larvas, casulos, lagartas, sob o título «All change!», tudo muda. A visão das metamorfoses. Bem ao vivo! E a recomendação de que, à saída, víssemos bem, não tivesse vindo alguma borboleta connosco…
Não resistimos depois e entrámos no museu, também ele bem concorrido nesse dia ainda de férias natalícias. E pasmámos. Era um museu de História Natural, pensado no bom espirito catalogador dos finais do século XIX, o que significa que ali encontras de tudo o que é animal embalsamado, desde a enorme lontra ao ratinho. Tudo classificado a rigor, nome comum e nome científico, zona do mundo em que predomina. As vitrinas da passarada, um mundo. Aves organizadas segundo o tipo de asa que têm e tu ficas pasmado com a envergadura de asa do condor ou de qualquer ave de rapina, que coisa enorme, nós que apenas os vimos lá no alto, planando…
Muito se fala em biodiversidade e na necessidade de a preservar, pois – com o chamado ‘progresso’ e a contínua invasão pelo Homem dos nichos ecológicos das espécies – muitas há em risco de extinção. E se já me deixara seduzir pela beleza e variedade das borboletas (é incrível o pormenor do seu revestimento, das suas antenas…), aqui, apenas em dois grandes salões do Horniman Museum, senti-me mesmo pequenino, ao tomar de novo consciência do que é, de facto, a biodiversidade.
Se é visita a fazer? Sem dúvida. Tanto mais que está afastado dos outros famosos museus e este é tão eloquente e rico como qualquer um deles. Pedes à Internet que te indique um Museu de História Natural em Londres e o que é que te aparece logo, em grandes parangonas? O NaturalHistory Museum, oficial, numa zona central, a Exhibition Road! Acontece que, afinal, também a periferia tem tesouros para mostrar!