ROMAN, O ‘ARTISTA’

Os portugueses, sempre tão preocupados e curiosos sobre a sorte dos seus compatriotas, há muito que não sabem nada de Roman Abramovich. Depois de perseguido e sancionado pelos governos ocidentais alinhados no apoio à Ucrânia, pouco ou nada se tem noticiado sobre este multimilionário russo a quem Portugal concedeu nacionalidade por ser trineto de judeus. Não há notícia de que tenha caído de nenhuma janela alta, portanto estará vivo. Mas de que vive e como vive?

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Em dezembro de 2023, foi notícia que Abramovich tinha perdido uma demanda judicial para anular sanções impostas pela União Europeia. A União Europeia já instituiu vários pacotes de sanções para tentar penalizar a Rússia pela invasão da Ucrânia, medidas que abarcam empresas e empresários russos de vários setores, nomeadamente energia, banca, indústria, comércio, bolsa. Abramovich é um entre mais de mil pessoas ricas que viram bens congelados, propriedades arrestadas e proibições de viajar. Mas estamos a falar de pessoas muito ricas e que tiveram a precaução de adquirir várias nacionalidades. Abramovich, por exemplo, além do passaporte russo, tem um israelita e outro português. Pelo menos. Ou seja, se viajar com esses documentos não pode ser impedido de entrar nos diferentes países e de fazer o que bem entender com o seu tempo e dinheiro.

Abramovich, por exemplo, investe em arte. As pessoas muito ricas fazem-no, como sabemos. Não apenas por vaidade, mas porque obras de arte são consideradas ativos em constante valorização. Dinheiro em caixa. E é um negócio de élites, longe dos olhares do público. Compra-se e vende-se no mais perfeito anonimato, em leilões online ou de acesso restrito.

Quadro de Lucian Freud, Benefits Supervisor Sleeping foi comprado por Abramovich por 33 milhões de dólares norte-americanos

Dizem os entendidos na matéria, que Abramovich tem uma fortuna imensa em obras de arte. Uma coleção que foi sendo feita nos últimos 15 anos. Uma investigação jornalística divulgou que a coleção abarca obras de mestres russos, europeus e americanos, a saber: Monet, Degas, Matisse, Picasso e Magritte; vários modernistas russos; e artistas contemporâneos britânicos como Lucian Freud, Francis Bacon e David Hockney. Dois quadros da portuguesa Paula Rego também constam da coleção.

Mulher-cão e A Filha do Polícia, as duas obras de Paula Rego adquiridas por Roman Abramovich


“Podíamos encher um museu só com a coleção dele”, disse um especialista de arte ao jornal The Guardian. Segundo a mesma fonte, a coleção de Abramovich, em 2018, foi avaliada em 900 milhões de euros.

La Liseuse, de Pablo Picasso, custou 8 milhões de dólares norte-americanos

Como foi que Abramovich evitou o arresto deste tesouro? As compras são feitas em nome da sociedade offshore Seline-Invest, em que 51% do capital pertence à… ex-mulher de Abramovich. Dasha Zhukova tem nacionalidade norte-americana e vive nos EUA. E não é casada com o russo perseguido. Divorciaram-se em 2016.

Tempos houve em que o ex-casal detinha, cada um, uma participação de 50% nessa sociedade de investimentos. Mas, antes da guerra na Ucrânia ter começado, foi feita uma nova divisão do capital social e Dasha ficou com a maioria. Uma jogada de mestre que só se entende se acreditarmos que Roman tem premonição sobre acontecimentos futuros ou escutou alguma confidência de Putin.

Outro pormenor interessante é sabermos que Zelensky pediu aos americanos para não incluírem o nome de Abramovich na lista dos sancionados. Ao contrário da União Europeia e do Reino Unido, os EUA não impuseram sanções a Abramovich. O argumento de Volodymyr Zelensky foi que Abramovich seria um intermediário útil com o Kremlin.

Abramovich parece que se safou, graças à sua lista de contactos. Teve de vender alguns anéis, como foi o caso do Clube de Futebol Chelsea, mas safou-se com o resto. O negócio do petróleo e gás natural vai de vento em popa, como se sabe. Deixou de vender diretamente à Europa, mas novos parceiros na Índia e na China tratam disso.

Quanto às obras de arte, estão guardadas. De vez em quando, uma ou outra peça aparece por empréstimo em exposições, mas não na Europa enquanto houver sanções.

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