Não aconteceu nada que justifique a realização de uma manifestação de protesto “contra a islamização”. Acontece apenas que a extrema-direita precisa de cavalgar aquilo que julga ser o momento oportuno para acicatar ódios e preconceitos. Quando o partido Chega cresce nas sondagens, os fascistas batem palmas e tentam surfar a onda.
A manifestação está marcada para 3 de fevereiro. Consta de uma arruada pela zona do Martim Moniz e avenida Almirante Reis, uma área onde se concentram muitas lojas de comércio e hotelaria de imigrantes asiáticos.
A comunidade asiática em Portugal é conhecida por ser laboriosa e pacífica. Não há índices relevantes de criminalidade. Nada que justifique protestos ou alarme social.
Mas as organizações racistas espalham ideias de perigo, mostram vídeos de muçulmanos a rezar e de indianos a comer à porta das “tasquinhas” da rua do Benformoso, onde se fazem as melhores chamuças de Lisboa, como se fossem atos conspiratórios. Nas redes sociais, há ainda vídeos onde “cidadãos de bem” esmurram imigrantes, exemplos que os grupos racistas tentam promover como legitimos.
Um pouco por todo o país, cartazes estão a ser afixados em locais públicos, pichagens com mensagens racistas e contra a presença de muçulmanos e de imigrantes em geral.
Os grupos racistas que promovem a manifestação têm o propósito de provocar. Qualquer reação mais hostil de contramanifestantes será pretexto para cenas de violência. É a tática habitual deste tipo de arruaceiros.
O direito à manifestação pode ser impedido, caso as autoridades policiais considerem haver perigo ou alarme social com a realização do evento. Manifestamente é o caso. A marcha deveria ser proibida. Está em curso uma recolha de assinaturas com esse fim. O documento já tem milhares de assinaturas e será entregue dia 25 a diferentes responsáveis políticos e institucionais, incluindo o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e a procuradora-geral da República, Lucília Gago.
A comunidade imigrante no Martim Moniz e Mouraria olha com apreensão para o protesto. Estas pessoas já têm experiência de serem alvo de ações racistas e xenófobas, nas ruas de Lisboa. Até agora sentiam-se seguras nas ruas do Bairro Alto e Mouraria. Os racistas vão tentar acabar com esse bem-estar.