As declarações dos atuais e dos antigos administradores da Global Media têm sido interessantes de seguir. Chamados à Comissão de Cultura da Assembleia da República, os administradores da Global Media disparam acusações mútuas uns contra os outros. Todos consideram que pessoalmente são competentíssimos e que os nabos são os outros. As referências às interferências de Marcelo Rebelo de Sousa são relevantes para percebermos o que se passou.
A questão do retorno da Agência Lusa à esfera do Estado revela a asneira que se cometeu quando se deu a agência noticiosa aos privados. Não só os privados não a querem, como o novo acionista, o fundo de investimento World Opportunity Fund (WOF) estaria a contar com a venda da agência ao Estado para garantir a sustentabilidade do negócio que pretende fazer em Portugal. Uma agência de notícias não tem de ser um negócio, mas é uma ferramenta fundamental para alicerçar as políticas de cooperação internacional do Estado e a unidade nacional.
Pelo que se percebe das declarações das pessoas que têm sido chamadas à Comissão parlamentar de Cultura, perdeu-se agora uma oportunidade de se conseguir esse regresso. A agência de notícias portuguesa está nas mãos de um fundo de investimento internacional, um tipo de organização pouco recomendável para qualquer Estado ter algum tipo de proximidade.
No passado dia 10, todos os trabalhadores da Global Media estiveram em greve, na tentativa de fazer gorar a ameaça de um despedimento coletivo de 200 trabalhadores dos vários títulos do grupo.
Em 6 de dezembro, em comunicado interno, a Comissão Executiva do Global Media, liderada por José Paulo Fafe, anunciou que iria negociar com caráter de urgência rescisões com 150 a 200 trabalhadores e avançar com uma reestruturação que disse ser necessária para evitar “a mais do que previsível falência do grupo”.
Na atual situação política, com o governo demissionário e eleições antecipadas marcadas para março, este problema nunca irá ser resolvido antes de haver um novo governo. E depois, tudo dependerá do resultado eleitoral. Se a direita formar governo, é bem possível que digamos adeus à agência Lusa.