Fez bem o actual Presidente da Câmara de Lisboa em proibir a manifestação dita neonazi, de facto da extrema direita, no Martim Moniz. Na base desta decisão, diz o próprio, está um conjunto de informações e uma análise de riscos feita pelas Forças de Segurança. Não ponho em causa esse estudo. Até o subscrevo. Mas não sejamos ingénuos.
O Engº Carlos Moedas é uma pessoa inteligente. Essa sua decisão é tão mais correta quanto a sua própria percepção de que se tudo aquilo descambasse em violência contra os imigrantes, o principal prejudicado em termos eleitorais seria ele próprio em particular, e o PSD como força política.
Sabemos que o Chega é o principal impulsionador destas manifestações anti-islâmicas, numa altura em que a nossa imigração tem uma forte influência de países de cultura muçulmana e hindu. O partido de André Ventura é racista, xenófobo e homofóbico em toda a linha. Mas como quase todos os partidos deste género têm vários padrões de comportamento, segundo a etnia e a crença religiosa. Se quiserem, estratificam a sua aversão às minorias, segundo critérios mais ou menos selectivos. Por exemplo, a Imigração de origem muçulmana é mais rejeitada do que a brasileira. O cigano é mais desdenhado do que o negro. Ainda que todos eles estejam no patamar dos indesejáveis, para o Chega.
Como o PSD nunca se demarcou do partido de André Ventura de forma credível (lembrem-se do que aconteceu nos Açores), por forma a dar garantias inequívocas de que jamais formaria um governo, neste caso da AD, com base num apoio, mesmo que envergonhado, do Chega, a haver uma manifestação racista com forte probabilidade de ameaças, insultos, agressões e turbulência, tudo isto com cobertura noticiosa, onde as televisões andariam por cada viela e esquina a filmar, existiria o forte risco de condenação pública deste evento. Claro, há um Portugal civilizado que não se revê neste tipo de agendas. Sentir-se-ia revoltado e mesmo ameaçado com aquele espetáculo.
Com imagens chocantes de violência gratuita e racista sobre imigrantes, associadas ao Chega, uma boa parte do eleitorado do centro, que vive naquela faixa de votantes que muda de partido, ou está disposta a abster-se de ir às urnas para castigar quem governa, sentir-se-ia impelido a votar à esquerda. Tudo por não terem garantias claras e sem evasivas, das linhas vermelhas traçadas pelo PSD.
Moedas já entrou na campanha, mas de forma inteligente. Um trunfo para futuro.