O estatuto moral e ético irrepreensível com que a direita portuguesa nos tenta convencer a votar neles, e cujo esteio principal é o PSD, está longe de ser credível e consistente.
A doutrina conservadora liberal está enraizada no PSD como em nenhum outro partido. Este, pela voz dos seus dirigentes, anda há décadas a tentar passar uma falsa mensagem para o eleitorado, assente numa ideia errada e inverosímil, a da sua incorruptibilidade e equidistância dos agentes económicos. Apresentando-se em contraponto a um PS refém de vários interesses e susceptível de ser comprado.
Claro que o ex primeiro-ministro José Sócrates deu um forte contributo para a criação desse anátema sobre o partido fundado por Mário Soares. E apesar de todas as suas tentativas para não ser julgado, haverá um dia em que se sentará num tribunal algures, para se defender das acusações de que é alvo.
Ao longo dos últimos vinte anos vimos autarcas, banqueiros e ex governantes ligados ao PSD e ao CDS, condenados com trânsito em julgado, por vários crimes de corrupção, evasão fiscal, prevaricação e tráfico de influências, o que desmente de forma categórica essa ideia peregrina da superioridade moral da direita. Mas convém também dizer que nestes casos, os crimes foram cometidos pela pessoa em si mesma, e não um conluio entre vários dirigentes do partido. Daí eu acreditar que entre os agentes políticos também há pessoas idóneas e com ética, dispostos a não ultrapassar as barreiras da decência.
Com este frenesim todo sobre o escândalo de corrupção e a constituição de vários arguidos, na Madeira, governada há quase 50 anos pelo PSD, entre eles o presidente do governo regional, secretários regionais e o autarca do Funchal, há um pormenor que tem escapado à comunicação social e aos partidos em geral (só Ventura abordou a questão), o qual me deixa preocupado, pois ele revela a verdadeira natureza e o caráter de alguns interlocutores políticos dentro das suas estruturas partidárias.
Olhemos então para a fuga do deputado Maló de Abreu para o Chega, a pretexto da irreconciliabilidade deste com o seu anterior partido.
Depois de muitas peripécias com alguns desmentidos à mistura sobre a troca de camisola, eis que passado alguns dias após o anúncio de Maló de Abreu como candidato do Chega, pelo círculo “Fora da Europa”, salta para a comunicação social a notícia sobre o recebimento indevido de ajudas de custo por parte do senhor deputado, eleito pelo círculo de Coimbra, mas a considerar-se residente em Luanda.
No caso Maló de Abreu é minha percepção, tal como intuiu André Ventura, que ele foi denunciado pelas próprias estruturas do PSD. Uma espécie de vingança. Algo parecido com o que aconteceu a Feliciano Barreiras Duarte, a propósito do seu mestrado, ou de Paulo Rangel, a pretexto da sua condição de homossexual.
Se nuns casos estamos a falar de grotescos ataques de carácter, já neste caso relacionado com Maló de Abreu, o assunto é grave e obscuro, mostrando que os sociais democratas não são sérios. Será que o PSD anda de mãos dadas com estas habilidades? Mas então são estas as referências morais do PSD? Ocultar uma vigarice durante dois anos, quem sabe, uma ilegalidade, enquanto lhe convinha, e denunciá-la quando se sente traído pelo presumível infractor.