Para limpar Portugal tem de se começar por algum lado e o Chega começou pelo PSD. Está certo, não devemos descurar o conforto dos progenitores e o Chega parido no PSD zela por isso.
A transferência do deputado Maló do PSD para o Chega contribui para aquela sensação de que há políticos que se vendem barato. Pode ser que se destape mais alguma falcatrua, mas para já a suspeita que atinge Maló é a de ter metido ao bolso 75 mil euros em subsídios e ajudas de custo indevidas, através de um esquema fraudulento de alteração de moradas.
A notícia é avançada esta quinta-feira pela revista Sábado.
Maló não tem sido notícia pelas melhores razões. Quando se soube do convite do Chega para se passar para lá, o deputado disse que a notícia era “baixa política” e que se esse convite existisse diria que não, “à partida e à chegada”. Poucos dias depois confirmou-se que era candidato do Chega. Como diz Daniel Oliveira no Expresso, Maló “começa a sua carreira cumprindo uma espécie de ritual iniciático daquele partido: com uma mentira.”
O problema é que as mentiras não têm sido sancionadas, nem pela justiça nem pelo voto popular. Votar em gente pouco escrupulosa não é novidade, sempre aconteceu e tudo indica que vai continuar a acontecer.
Logo de início tivemos o caso das assinaturas falsas detetadas pelo Tribunal Constitucional no processo de legalização do Chega. As assinaturas foram mesmo falsificadas, mas o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa não foi capaz de descobrir quem foi o falsificador, “não foram reunidos indícios suficientes sobre a autoria das falsificações (seja autoria moral ou material)”, informou na altura o DIAP.
E depois tivemos o caso do assessor Manuel Matias, pai da única deputa do Chega, Rita Matias. E tivemos o caso de António Cerqueira, autarca de Vila verde, eleito pelo CDS entre 1976 e 1997, condenado a seis anos de prisão, em cúmulo jurídico, pela prática de três crimes de peculato (uso indevido de bens de instituições públicas), três de falsificação e um de abuso de poder. Foi ainda obrigado a devolver 100 mil euros ao Estado de ordenados recebidos indevidamente.
As autarquias têm sido um problema. Desde as eleições de 2021, o Chega já perdeu quase metade dos autarcas que elegeu. O caso do vereador de Sintra, Nuno Afonso é apenas o mais mediático, pelo facto de se tratar de um fundador e nº 2 do partido. O que Nuno Afonso diz de Ventura, não dizem os muçulmanos do toucinho.
Diz ele que Ventura descarta pessoas, “agora que o Chega custa 10 milhões ao Estado e o presidente tem todas as despesas pagas, incluindo carro, portagens, estadias, motoristas, refeições e digestivos.” E que o nepotismo é prática corrente no Chega, “o amiguismo é prática corrente no partido. Além disso, castiga, persegue e afasta todos os que possam fazer-lhe oposição.”
Numa entrevista à revista Visão, Afonso abre o livro sobre o Chega. “Temos deputados que agridem colegas, parlamentares que ofendem outros deputados, um assessor que ameaça jornalistas, outro que fotografa os computadores dos repórteres e ouve as suas conversas, um eleito que ameaçou um assessor de outro partido, um deputado que supostamente agrediu um militante do Chega dentro da Assembleia”. Parece um filme de cowboys.
Mas a primeira mentira é o pregão de ser um partido antisistema. Não só não recusa nenhuma das mordomias do sistema como vota a favor delas. E, agora, alicia deputados de ética duvidosa que passam diretamente das bancadas do PSD para a sua.