Podia começar por responsabilizar em parte os jornalistas, as primeiras vitimas, por muitas das vezes se terem posto a jeito, para que tudo isto acontecesse. Mas não vou por aí, numa altura em que esgrimir culpas, nada acrescenta. Até porque em todas as classes profissionais, eles não são exceção, o instinto de sobrevivência é sempre mais forte de que a consciência de classe.
A comunicação social deixou de ser um investimento rentável, com interesse para pequenos grupos de acionistas, jornalistas, editores e livreiros, publicitários ou até associações empresariais, por razões diversas. Resta a Igreja por motivos óbvios e um ou outro grande grupo económico que necessita de ter voz própria no mundo mediático, como é por exemplo, o caso da Sonae, com o Público. Este caso até deveria ser estudado. Como o mundo empresarial pode ter um bom jornal, sem estar agarrado a agendas ideológicas. O que já não acontece com o Observador ou o Correio da Manhã. Um com uma clara agenda liberal, associada ao PSD, e o outro um tabloide que mais parece um pasquim.
Salvar a comunicação social livre e democrática é tao urgente como salvar o clima e os ecossistemas. A imprensa escrita e falada é o gás que inalamos todos os dias para conseguirmos olhar o mundo que nos rodeia, para além do nosso circulo restrito de amizades. Que nos põe a pensar, mesmo quando uma noticia nos irrita ou entristece.
Não sendo um negócio rentável há que apresentar soluções para que não morramos todos no obscurantismo medieval do boato, da mentira e insinuação das redes sociais, cuja credibilidade vale menos que um pregão de feira.
Os que se dizem democratas devem ponderar de forma séria e obstinada como salvar o instrumento mais forte na defesa da liberdade e do estado de direito, a Comunicação Social. Sem ela, não só morremos estúpidos, como deixamos de ser livres.
Tal como a leitura é importante para a nossa formação ao nível da escrita e da oralidade, incentivar os jovens a ler jornais também é. A ouvir a rádio. A melhor forma de os atrair para essa leitura é o próprio Estado proporcionar através do sistema educativo, aulas com essa temática, e o desenvolvimento de jornais e rádios dentro do agrupamento escolar, com a contratação de profissionais do sector, para ajudar a formar essa gente, não como uma disciplina curricular, mas como formação cívica. Promover o mecenato nessa área, apoiando empresas que os ajudem a formar, por exemplo, uma rádio.
Para o cidadão comum é necessário dar apoios à assinatura de jornais, tanto de circulação nacional como regionais. Através de medidas fiscais que mitiguem a despesa no agregado familiar, com essa compra. O abate em sede de IRS de pelo menos 50% dessa aquisição, deveria ser ponderada.
Não fazer nada é caminhar para o obscurantismo. É isso que queremos?
Um excelente texto de Rui Naldinho que coloca esta questão com toda a frontalidade.
A comunicação social, tanto a imprensa escrita, como a audiovisual, está dominada por grupos económicos pouco interessados no sector. E o sector é alimentado pela energia de trabalhadores, tantas vezes confrontados com o despedimento.
Até o mundo editorial enfrenta essa ameaça: as editoras independentes dão braçadas num mar tumultuado para se manterem à tona.
Talvez seja isso que os poderes pretendem: manter o obscurantismo. Os que não têm abertura de horizontes pela leitura, são mais facilmente domáveis.