VOU ALI VER O MUNDO

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Na zona do Cabo de São Vicente, no Algarve, criou-se uma espécie de consciência autonómica; por isso, quando de lá saem para, por exemplo, irem às compras fora, os habitantes dizem “Vou ali ao Algarve”.

Na Malveira da Serra, em Cascais, quem vive em Janes ou mais para o cimo da encosta, fala “Vou ali à aldeia”, quando se desloca para a zona comercial.

Em Bragança, dizia-se (ou ainda se diz) “Vou à cidade” e as pessoas vivem na cidade, apenas vão à área mais movimentada.

Quando, de Coimbra, me preparava para regressar a Cascais, os colegas perguntavam “Então já vais para Lisboa?”.

Quem vive no Bairro de Alvalade, em Lisboa, vai “à Baixa”; mas, ao falar com os amigos de fora, não diz moro “em Alvalade”, mas “moro em Lisboa”.

Se teus parentes estão em Penge, Anerley, Crystal Palace ou Sydenham, ao referires-te a eles, tu não especificas o bairro, mas dizes genericamente “estão em Londres”, embora se trate, de facto, de realidades bem diferentes.  Há a Londres “city”, o centro movimentado, monumental, regurgitante de comércio, cosmopolita até mais não, de ruas onde todas as raças e trajes exóticos se acotovelam. A Londres dos cartazes turísticos e aonde tu dizes que vais, mesmo que, saindo do aeroporto de Gatwick, chegues apenas a Penge quase duas horas depois de o avião ter aberto as portas. Se calhar, até és capaz de ficar por Penge todo o tempo da tua breve visita e nem sequer te apeteça rever o Tamisa ou ouvir o Big Ben.

Nesse caso, uma outra Londres, porventura mais viva, porque mais terra-a-terra, mais próxima de nós, que vamos à peixaria, ao talho, ao café “do bairro” e onde nos cruzamos, quiçá, com conhecidos nossos, e onde até haverá uma loja luso-brasileira! A rua principal, que corta o “bairro” a meio, terá movimento, ali passarão os autocarros… A contrastar com a pacatez das ruas perpendiculares, de casas bem juntinhas, todas praticamente iguais, onde se vive mesmo. E também aqui se diz “Hoje, vou a Londres!” – na referência ao passeio que se pensa dar, da parte da tarde, para visitar uma exposição ou simplesmente para ver como vão as águas do Tamisa. Mas vai-se de comboio ou de autocarro, pagando através da milagrosa aplicação por todos reconhecida como meio ágil e seguro de fazer todas as transacções em todo o lado!

Outro mundo, afinal! Ou será mesmo o nosso?

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