QUANDO A GUINÉ QUASE FOI INGLESA

A ilha de Bolama foi britânica em 1792/93 ... tivesse o 18º Presidente dos EUA, Ulysses S. Grant, que mediou o conflito entre Portugal e o Reino Unido, decidido em 1870 de outra maneira e Bolama, talvez toda a Guiné, teria sido colónia inglesa e hoje pertenceria a Commonwealth!

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A ‘Questão de Bolama’ foi um conflito diplomático e militar, entre o Reino de Portugal e o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, travado durante pouco mais de 30 anos, sobre a soberania da ilha de Bolama e um pequeno território continental em frente à ilha.

A questão teve origem no ano de 1792, quando um grupo de britânicos adquiriu a ilha com o objetivo de fundar uma colónia modelo, livre da escravatura. Na verdade, a experiência só demorou um ano e acabou com o abandono de Bolama pelos ingleses.

Os ingleses morriam muito com malária e outras doenças tropicais e os que não morreram fugiram com medo para outras paragens. Dos 275 colonos ingleses (homens, mulheres e crianças) em outubro de 1793 já só restavam 2 e acabava assim esta experiência utópica.

Mas a partir de 1834 o Reino Unido passou a reclamar a ilha, apresentando como justificação a luta contra o tráfico de escravos, que Portugal praticava, e ocupou militarmente a ilha várias vezes.

Foram quase 30 anos de conflito intermitente. Em 1861, dado não ser exequível a Portugal vencer militarmente, o encarregado de negócios português em Londres propôs ao governo britânico o recurso à arbitragem internacional, deixando ao Reino Unido a escolha do árbitro. A resposta britânica foi negativa, mas sete anos mais tarde, em 1868 o governo britânico aceita a proposta portuguesa e escolhe como arbitro o 18º presidente dos EUA.

Assim, o conflito foi levado a decisão arbitral do presidente norte-americano Ulysses S. Grant, que em 1870 decidiu em favor da parte portuguesa, levando à definitiva integração daquele território na Guiné Portuguesa, hoje República da Guiné-Bissau.

A sentença foi considerada uma grande vitória da diplomacia portuguesa. António José de Ávila, o 1.º conde de Ávila, responsável português pelas negociações, é elevado imediatamente a 1.º marquês de Ávila e Bolama, sendo depois, de 1878, feito 1.º duque de Ávila e Bolama.  Não se percebe a razão da avenida em Lisboa só se chamar Duque de Ávila. 

Para terminar esta história, digo-vos que ainda há alguma presença britânica em Bolama. O cemitério local, chamado Cemitério dos Ingleses – mas onde não se vislumbram campas de ingleses – e uma estrutura de ferro, lindíssima, onde terá funcionado um hospital e o consulado britânico.

Junto a esta última estrutura existe uma placa comemorativa do 220º aniversário da ocupação britânica da ilha, oferecida por 2 deputados britânicos que se deslocaram a Bolama em 2013.

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