MORTOS EM REPORTAGEM

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É muito elevado o número de jornalistas mortos nos ataques israelitas à Faixa de Gaza, nos confrontos na Cisjordânia e na fronteira com o Líbano. Nunca antes morreram tantos repórteres em tão pouco tempo. E há indicações de que Israel trata objetivamente os jornalistas como alvos.

No canal 13 da televisão israelita, o comentador Zvi Yehezkeli, especialista em assuntos militares, afirmou que, de um modo geral “nós sabemos” quais são os alvos, referindo-se ao momento em que um míssil destruiu a casa de Wael Dahdouh, chefe da delegação do canal Al Jazeera, matando-lhe toda a família. Wael sobreviveu porque, nesse preciso momento, estava em reportagem.

Os bombardeamentos israelitas sobre Gaza não são de agora, tem sido uma realidade desde que o conflito israelo-palestiniano se iniciou, há décadas. E as ações militares para silenciar a causa da Palestina também não são novidade. Por exemplo, em 2021, o edifício onde funcionavam as delegações da Associated Press e da Al Jazeera em Gaza foi destruído por um míssil. Em 2022, uma jornalista, também da Al Jazeera, Shireen Abu-Akleh, correspondente em Jerusalém, foi morta a tiro por um sniper militar israelita, num caso que provocou repulsa internacional.

SHIREEN, morta por um sniper (duaslinhas.pt) publicado em 17 de maio de 2022

Mas o que até agora podia ser avaliado como acontecimentos fortuitos, provocados pela tensão das circunstâncias, passou a ser uma ação sistemática, orientada de modo eficaz para matar jornalistas. A última contagem divulgada pela Resistência Palestiniana dava conta de mais de 70 repórteres mortos.

O Comité para a Proteçáo de Jornalistas (CPJ) contabilizou até agora um total de 63 jornalistas mortos:  56 palestinianos, 4 israelitas e 3 libaneses.

O registo do CPJ indica ainda 11 jornalistas feridos, 3 desaparecidos e 19 detidos.

Além destas cifras trágicas, o CPJ confirma as dificuldades para o exercício da profissão, com inúmeros casos de ameaças, assaltos, violência física e psicológica, ataques cibernéticos, censura e… como forma suprema de pressão, a morte de familiares de jornalistas.

Segundo informação veiculada no site da CPJ, há mais relatos de jornalistas mortos, detidos, desaparecidos ou ameaçados, mas que ainda não foram confirmados por fontes fidedignas.

título da notícia sobre jornalistas mortos até dia 5 de dezembro na Faixa de Gaza, Cisjordânia e Líbanopublicada no sitre do CPJ Journalist casualties in the Israel-Gaza war – Committee to Protect Journalists (cpj.org)

E como sabem os artilheiros israelitas da localização exata dos repórteres palestinianos? De uma maneira simples, localizando os respetivos telemóveis e outros equipamentos utilizados para transmissão de imagens e som pela net ou por satélite. A maioria desses equipamentos entrou em Gaza através de importações legais, mas como Israel controla tudo o que entra, não só pessoas como mercadorias, suspeita-se agora, que esses equipamentos (máquinas fotográficas, câmaras de vídeo, telemóveis, etc.) terão sido manipulados pelos serviços secretos para poderem ser facilmente localizados.

Também as operadoras de telecomunicações são tidas como cúmplices dessa espionagem a favor de Israel. Mais evidente tem sido o papel das empresas tecnológicas na censura a quem dá voz aos palestinianos.

Logo após os acontecimentos de 7 de outubro, várias plataformas de redes sociais suspenderam ou desativaram perfis pertencentes a numerosos jornalistas proeminentes, defensores dos direitos humanos e ativistas palestinianos.

Já antes havia a perceção de que havia publicações “invisíveis”, estavam lá, mas ninguém as via, não havia partilhas nem comentários. Quem controla as redes sociais pode fazer isso, sem dificuldade.

Segundo o site Grayzone, um porta-voz da Meta, afirmou que a empresa não tem motivações políticas. É notável que alguém tenha dito isto sem se rir.

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