LONDRES SURPREENDE

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Por mais vezes que um europeu venha a Londres, decerto haverá duas sensações que inevitavelmente o invadirão: o cosmopolitismo e um arrepio ao ver um carro vir em sua direção.

A primeira, por mais consciencializados que estejamos, sente-se, por exemplo, bem forte no momento em que, ao dobrar do corredor no supermercado, damos de frente com os olhos bonitos  duma muçulmana, de cima a baixo coberta de negro e ela se sente aqui como no seu país natal  e os demais já o consideram normal.

A segunda será, porventura, mais aguda ainda para quem, um dia, ousou tomar um táxi em Nápoles e, num abrir e fechar de olhos, dá com outro carro, ainda que por segundos, a ir em direcção proibida e há outra viatura ali em frente. Em Londres, só os primeiros momentos dos europeus serão de desorientação, depressa se habituarão a essa condução pela esquerda, até porque a palavra ‘slow’, marcada a espaços no chão lhes poderá garantir que condutor que se preza respeitará o limite de velocidade.

Claro, a um português agradará sempre dar aquela saltadinha à loja onde poderá comprar produtos típicos nossos e saber que, na zona londrina de Bromley, a maior divisão administrativa, sita no sudeste da Grande Londres, o português é  a segunda língua mais falada,  com 0,59% da população a exprimir-se habitualmente na língua de Camões.

Admirar-se-á, porventura, do papel dominante ocupado pelo telemóvel no dia-a-dia, na medida em que serve para pagar os transportes públicos e todas as despesas; e que o código QR (“quick response”, resposta rápida) é de uso constante!

Quem aprecia a vida animal e só tenha por habitual companhia pardais, rolas e melros, admirar-se-á ao ver a descontracção como, nessas zonas de subúrbio londrino, os esquilos te vêm espreitar  na mira de lhes poderes dar um petisco, ou mesmo a raposinha matreira que não hesita em vir, de noite, vasculhar o caixote do lixo. Tudo inconcebível para um europeu urbano.

Nesses “bairros” periféricos, não é estranho ver as ruas ladeadas de casas em banda contínua, de dois pisos, paredes de tijolo burro e as divisões interiores não de tijolo mas de contraplacado, o que não deixa de ser para nós quase inverosímil.

No parque de Crystal Palace, em dia feriado, multidão de famílias a passearem, serenas, a pretexto de levarem o seu cão a passear, hábito que aí já vem de longe, pois que o recipiente para os detritos caninos tem aspecto monumental, em sólida liga metálica quiçá datável do séc. XIX. Aliás, a  sensação que se tem é que poderá haver uma proporção de  meia dúzia de pessoas para um cão!…

Paramos diante da imponente concha acústica (Bowl) metálica, dotada de camarins. Diante, no espelho d’água, os patos anseiam por novo concerto, como aquele, mui célebre, de Bob Marley e dos The Wailers, a 7 de junho de 1980, cujo quadragésimo aniversário é lembrado por significativa placa afixada no poste de iluminação, por iniciativa da Nubian Jack Community Trust.

No céu, com uma frequência  admirável,  os aviões fazem fila para aterrar em Heathrow, em Gatwick ou em City. Não vemos os que partem, a fila faz-se em terra e também está com eles o desejo de partir – que o mundo, hoje, foram eles que o tornaram bem mais pequeno!…

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