CHEIRA A PASSOS COELHO

Estou nos antípodas do pensamento politico do Dr. Luís Montenegro. Não partilho nem de longe nem de perto as ideias defendidas pelo actual líder do PSD, que estão em linha com o mais puro neoliberalismo Tatcheriano, inimigo do ambiente e do clima, inimigo da regulação dos mercados, em suma, contra o Estado Social.

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Sei que o advogado Luís Montenegro teve ajustes directos na prestação de serviços jurídicos a algumas autarquias do PSD. Aliás o comum na maioria delas, e cada uma com trabalhos adjudicados a gente próxima politicamente do partido do Presidente da Câmara, no poder.  Seja ao nível das empreitadas ou aquisição de bens e serviços.

Como também já percebi, o líder do PSD tem um casarão à beira mar plantado, na cidade de Espinho, não fosse ele um produto das nossas elites, por ascendência directa ou por via matrimonial. Tudo isto faz parte do dia a dia desta terra frágil, em que nem os ricos dispensam as ajudas do Estado, mesmo que de forma indirecta, como parece ser o caso de Montenegro. Quanto mais os pobres e remediados, à rasca, com um SNS subfinanciado, cada vez mais curto e demorado, ou uma Escola Pública cada vez mais desinteressante nos objectivos a que se propôs alcançar na Constituição de 1976. Mas nada disso é crime.

Daí a eu achar que o líder do PSD é uma pessoa desonesta, e que subverteu a Lei para obter benefícios fiscais, vai uma grande distância. Para mim o Dr. Luís Montenegro usou apenas as prerrogativas que a Lei lhe confere, até nas lacunas que esta tem, em face do verdadeiro espirito da mesma. Mas isso não é culpa dele. É do legislador.  

Tudo isto é pratica comum nos nossos governantes, e já no passado Miguel Cadilhe, Cavaco Silva e Fernando Medina com as célebres permutas de património predial, entre outros com manigâncias de outro género, aproveitaram as incongruências da Lei.

Dito isto, qual a razão para esta investigação do Ministério Público (MP) sobre a legalidade do processo construtivo da moradia de Luís Montenegro vir agora a público?

Só concebo uma plausível. O MP anda há anos a dar tiros em falso. Tiros esses que alimentam o populismo e fazem perpassar a ideia de corrupção generalizada na classe política.  O facto é que grande parte dos processos de investigação tornados públicos, não dão sequer em acusação. E uma boa parte dos que são acusados acabam sem condenação, ainda que por razões diversas.

Estou, mas é com a sensação de que este MP acabou por ficar refém da sua decisão de tornar pública uma investigação ao ainda primeiro-ministro, sem ter suspeitas suficientemente sólidas sobre o pretenso tráfico de influências exercido por António Costa, na aprovação de vários projectos de investimento, contribuindo dessa forma para a demissão do governo, agora em gestão. E quem sabe, para um cenário de ingovernabilidade, no futuro.

Ao deixar escapar para o exterior, nesta altura, a informação sobre uma investigação à forma como Luís Montenegro adquiriu a sua habitação na localidade de Espinho, com a suspeita de benefícios fiscais ilegítimos, o MP parece estar a fingir equidistância, para que fiquemos com a sensação de que não há aqui escolhas politicas, mas apenas a verdade e a legalidade.

Não me convencem. Nem eles, nem quem fez a denuncia. Aliás perece-me mais que alguém na direita está com vontade de que tudo corra mal ao líder do PSD, desacreditando-o na sua honorabilidade pessoal, para que as coisas falhem no plano eleitoral, e, afastando-o pela fraca prestação, estejam as portas escancaradas para um regresso de Passos Coelho.

André Ventura agradece. Ele e o Dr. Passos Coelho são a cara e a coroa da mesma moeda.

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