Pedrógão Grande, maior que o incêndio que a marcou

Pedrógão Grande está amiúde na ordem do dia por uma causa triste: o incêndio que, inclemente, ceifou muitas vidas humanas.

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Lembrei-me, na altura, que de Pedrógão para Cascais viera servir Isolina Alves Santos. Nada a distinguiria, à partida, das demais beirãs que por estes arredores de Lisboa buscaram melhoria de vida no após-guerra, não fora ela propensa a facilmente poetar. E houve a possibilidade de lhe publicarmos quatro livros com os poemas de folhas soltas que lhe enchiam as gavetas.

Dela me lembrei de novo agora – veja-se … – quando Aires Rodrigues me veio falar das descobertas arqueológicas que, integradas na História de Portugal, merecem a maior atenção. Por elas tem lutado com todas as veras da sua alma. A autarquia poderá não considerar esta uma prioridade; as entidades que superintendem no património cultural nem sempre acolhem com a necessária diligência propostas individuais; os historiadores ainda se não terão debruçado a sério sobre as hipóteses que as descobertas tornam cativantes.

Segundo Aires Rodrigues, Pedrógão Grande tem de entrar, de pleno direito, no rol de lugares com amplas virtualidades culturais, porque é sua convicção, por exemplo, de que ali se encontraram os fundamentos do castelo, cuja construção el-rei D. Afonso Henriques acordara com o franco Uzbert, a fim de reforçar o sistema defensivo meridional do Condado Portucalense, em linha com os castelos de Penela, Lousã e Miranda do Corvo, no âmbito da estratégia de el-rei de avançar com segurança até Santarém e Lisboa.

Não hesitei, pois, em salientar os pergaminhos que o sítio ostenta e que não têm sido tomados na devida conta:

– uma ocupação romana a realçar;

– um papel não despiciendo na defesa do incipiente território português («vigia do Reino»!), de que o «castelo de Uzbert» é prova evidente;

– lugar de passagem no decorrer da Idade Média, inclusive no quadro do caminho português de Santiago, com a albergaria correspondente, e, hoje, integrante da já mítica Estrada Nacional 2;

– a reabilitação, impossível em termos concretos, mas possível em termos históricos, do convento dominicano de Nossa Senhora da Luz, citado por Frei Luís de Sousa, «local místico e inspirador, em íntimo contacto com a natureza e, manifestamente à beira de uma antiquíssima rota viária», anota Aires Henriques, convento decantado pelo pedroguense Miguel Leitão de Andrada (1553-1630), nos diálogos Miscelânea do Sítio de Nossa Senhora da Luz do Pedrógão Grande: aparecimento de sua imagem, fundação do seu Convento… publicados, pela primeira vez, em 1629.

Albergaria medieval e um dos nichos para os passos da semana santa (século XVIII)
desenho da muralha e torre medieval, base da ponte ‘romana’ do Cabril

Apetece, pois, proclamar, aqui com plena justificação concreta: como a mítica Fénix, Pedrógão Grande merece renascer das cinzas e ser visto com novo olhar!

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