– Telefonaram de Cascais…
– Foi a malta do Centro Cultural de Cascais? A sala desses gajos é muito pequenina, não dá para a montagem…
– Não são esses. É uma colectividade que fica para os lados do campo do Estoril. Na Amoreira. O nome é bom, pá! Grupo de Instrução Popular da Amoreira.
– Com um nome desses não podemos faltar! Está mesmo a pedir António Aleixo.
E não faltaram. Foram. Estava tudo a correr muito bem, o Avenidas a representar que era um brinquinho, e de repente um dos directores da colectividade de Instrução Popular, começou a nem acreditar no que estava a ouvir. Pelos vistos a primavera marcelista ainda não o tinha libertado do Inverno salazarista. Ou na realidade essa Primavera mais não era do que sol de inverno e de pouca duração, cujos raios nunca conseguiram trazer a luz da liberdade.
Não! Aquilo que estavam para ali a dizer no palco ainda podia dar problemas. Aquilo é política, pá!, disse ele para um colega de direcção que até parecia estar a gostar, e sem sequer esperar pela opinião do outro, foi direito ao palco e mandou parar a representação com berros de “isto não se pode dizer”, “estão todos doidos?”, “mas vocês querem ir presos?”.
A representação acabou ali mesmo… (…)… Passados poucos dias, Fernando Grade, poeta e jornalista do A Nossa Terra, jornal regional de Cascais, publicava um artigo cujo título era “Quem Tem Medo de António Aleixo?”
