O medo…

Estou a ler o segundo romance do Guilherme Leite que irei ter o prazer de apresentar no próximo dia 23, na Associação 25 de abril, em Lisboa. Deixo-vos só com este “aperitivo”, um dos muitos retratos da sociedade portuguesa de antes da Revolução de 1974 que recheiam a narrativa desta história. Um tempo em que o medo tomava conta das pessoas.

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– Telefonaram de Cascais…

 – Foi a malta do Centro Cultural de Cascais? A sala desses gajos é muito pequenina, não dá para a montagem…

– Não são esses. É uma colectividade que fica para os lados do campo do Estoril. Na Amoreira. O nome é bom, pá! Grupo de Instrução Popular da Amoreira.

 – Com um nome desses não podemos faltar! Está mesmo a pedir António Aleixo.

E não faltaram. Foram. Estava tudo a correr muito bem, o Avenidas a representar que era um brinquinho, e de repente um dos directores da colectividade de Instrução Popular, começou a nem acreditar no que estava a ouvir. Pelos vistos a primavera marcelista ainda não o tinha libertado do Inverno salazarista. Ou na realidade essa Primavera mais não era do que sol de inverno e de pouca duração, cujos raios nunca conseguiram trazer a luz da liberdade.

Não! Aquilo que estavam para ali a dizer no palco ainda podia dar problemas. Aquilo é política, pá!, disse ele para um colega de direcção que até parecia estar a gostar, e sem sequer esperar pela opinião do outro, foi direito ao palco e mandou parar a representação com berros de “isto não se pode dizer”, “estão todos doidos?”, “mas vocês querem ir presos?”.

A representação acabou ali mesmo… (…)…  Passados poucos dias, Fernando Grade, poeta e jornalista do A Nossa Terra, jornal regional de Cascais, publicava um artigo cujo título era “Quem Tem Medo de António Aleixo?”

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