A existência de hipopótamos de água salgada, é um dos segredos mais extraordinários da ilha de Orango, no arquipélago dos Bijagós, Guiné-Bissau.
Arrisco dizer que se trata de coisa rara ou mesmo única no mundo! Em Orango vivem atualmente as últimas colónias desses simpáticos e grandes animais da Guiné-Bissau. São enormes, pesam entre 1,5 e 4 toneladas e mesmo assim cavalgam a 20-30 km por hora.
Aliás, em grego o seu nome significa “cavalo do rio” e por aqui também lhe chamam cavalo-peixe. Nos Bijagós, a ilha Cavalo chama-se assim porque em tempos idos tinha muitos hipopótamos.
Estes animais passam o dia nas lagoas para se refrescarem, dirigem-se ao anoitecer para o mar para se livrarem dos parasitas e à noite fazem varios quilómetros pelo mato e mangais para se alimentarem. Ao passarem pelos terrenos destroem, por vezes, as culturas. São herbívoros e comem muito, muito mesmo, podem comer mais de 50 kg numa noite, e criam assim alguns conflitos com as populações.
Para vermos os hipopótamos, saimos de Kéré para uma viagem de 3 horas de barco até Orango. Depois do almoço, mais uma hora de barco até uma praia próximo das lagoas onde habitualmente os hipopótamos residem.
Uma caminhada de cerca de meia hora pelo mato, com capim da minha altura, ao longo da qual o guia indica algumas passagens recentes de hipopótamos, levou-nos à primeira lagoa, grande e com boa visao, mas nada de hipopótamos … nesse dia os nossos amigos não andavam por ali.
Mais 15 minutos de caminhada e, ao atravessar uma ribeira quase seca, o guia faz sinal. Ouvem-se os bichos. Passados 2 ou 3 minutos chegámos à segunda lagoa, mas pequena e estreita. Lá estavam eles, os hipopótamos, à nossa espera !
Ouvia-se a respiração e foram aparecendo, tive a sorte de ver vários e a abrirem bem a sua enorme boca no “bocejo” tao caracteristico destes animais. Esta manada terá cerca de 12 animais. Um macho, as femeas e pelo menos uma cria nascida este ano. Há outras manadas na ilha.
Quando se começaram a agitar mais, o guia fez sinal para nos afastarmos, era altura de sairmos dali. A seguir aos mosquitos estes são os animais que mais matam em África!
No regresso o guia Teófilo conta-nos que apesar dos estragos nas culturas, estes animais não são mortos pelas populações. Aqui os hipopótamos são considerados sagrados.
A lenda que Teófilo nos conta, diz que os hipopótamos só viviam na água doce, até que pediram a Deus para se poderem banhar no mar. Deus respondeu que não, pois eles iriam comer os peixes. Então os hipopótamos prometeram não comer peixes… e Deus deixou-os ir ao mar. Sempre desconfiado, Deus fez-lhes uma boca enorme, que abrem várias vezes ao dia, para Deus ver que nao comem peixe!