No início de 2010 aparecia o livro ‘Mudar’ editado por Francisco José Viegas, da Quetzal, acérrimo defensor do desacordo ortográfico e figura da cultura do futuro governo liderado pelo autor, Passos Coelho. Na forja, uma e outra e outra vez mais ainda, a inflexão liberal do PSD estampada numa das frases do livro “Se explicarmos e repetirmos com convicção e clareza os objectivos, é mais fácil para as pessoas cooperarem com o processo reformista.”
A ideia não social-democrata do livro e também aquela que não suscitou debate, porque o debate foi extinto com a invenção do Cavaco na sequência do golpe que vitimou o Professor João Salgueiro, aparece-nos sob a forma de um hipotético compromisso : “Se temos de gastar mais na saúde isso deve implicar gastar menos na educação; se gastarmos mais na educação, isso deve ter a contrapartida de gastarmos menos nos apoios sociais (…)”. Uma formulação neo-liberal, nunca uma formulação social-democrata.
Longe, demasiado longe, vão os tempos em que Francisco Sá Carneiro abraçou os ideais republicanos e laicos, cujo farol foi o Programa de Godesberg, datado de 1969 e que se constituíu como um referencial teórico para que o PPD se pudesse constituir e crescer, suportado pelo Estado de Direito e pelas liberdades individuais, capaz de salvaguardar as premissas do socialismo. Concebeu um partido que se afastava de uma democracia cristã em favor de uma solução mais próxima do SPD da Alemanha Ocidental, progressista e com uma visão próxima da realidade política europeia.
Voltando ao Dr. Passos Coelho, economista. Pelo caminho tinha acontecido um ingresso na Universidade Lusíada para a respectiva licenciatura, sem o crivo do contingente geral da escola pública como todos os ‘jotinhas’, sejam eles do PS ou do PSD. Se há um caminho a direito e podemos pagar, para quê concorrer com os outros alunos e com as médias nacionais? Só pretendemos o diploma.
E foi certamente por aí, pela falta de cultura, pela falta de leitura, por não ter a noção do seu papel na sociedade quando, sem mérito e sem preparação, tal como outros antes de si, foi primeiro-ministro de Portugal.
No governo de Pedro Passos Coelho podemos questionar muitas das medidas tomadas e certamente haverá quem o defenda e diga que a culpa foi dos socialistas que deixaram o país na bancarrota e os seus correlegionários que dirão que fez o melhor que pode e soube.
A demonstração da total insensibilidade e desprezo pela vida humana foi a aprovação da lei do sangue em 2011. Desde essa data os dadores ficaram sem o dia da dádiva para descanso. Quanto é que valem 200mm de sangue? Desapareceram de então para cá 40000 dadores. Dar sangue custa e em determinadas profissões é bastante penoso.
Ainda há dias Pedro Passos Coelho ousou, teve o atrevimento de, numa escola pública, perante jovens proferir esta frase assassina, referindo-se ao Chega: “é um partido como os outros que estão presentes na Assembleia da República”.
Não, não é. Nós sabemos que o senhor foi o criador do André Ventura ao promovê-lo a candidato por Loures para a Câmara Municipal, mas este salto em direcção ao abismo ultrapassa pela direita o Miguel Pinto Luz.
E revolta as entranhas, faz com que aquilo que resta de Sá Carneiro lhe caia em cima com estrondo tamanho. É a ofensa à memória de um homem bom. O senhor, Dr. Passos Coelho, fede, mete nojo.
O autor escreve em português tal como o seu pai lhe ensinou, ao colo, a ler “A Bola”.