Há 7 anos que o jovem escreve poesia. É como quem escreve canções. Quando lemos poesia, cantamos em surdina aquelas palavras em desalinho.
Meu irmão, deixa-me olhar teu rosto no berço frágil que te construí tardiamente agora que não te tenho, virado véu na aurora e lume no céu. Querido infante: olhos âmbar como sol lágrimas da tua mãe de saudade – peitos que te nutriram –, as tuas mãos de pluma no paraíso hospedadas no frio mármore de Carrara. poema Ao meu irmão, Pequena Dolência (no prelo)

Às vezes fica difícil perceber o sentido certo que o poeta quis dar às palavras que escreveu. Fica ao critério do leitor, o poeta que nos desculpe. Tivesse escrito de modo mais escorreito. Na verdade, o poeta não quer saber das nossas dúvidas. E pode ser esse um dos encantos da poesia, a liberdade de pensamento. Do autor e do leitor.
“procurá-lo-emos”, disseste, o cantar inexprimível desdobrado em mim, escondido, a carpir sedento este tesouro; vivo de dores dei-o todo – meu? não era – num ápice sorvido e escrito imperfeito estilhaços de apólogos renunciados. descansa no instante pesado do sonho tem fé no reconhecimento do meu cristal que breve porá fim às horas malignas, insónias, perfumes abafados nas margens do leito. Uma hora suplicar-te-á que incendeies, espero, e renoves o rosto à falta de pecados. Poema sem título, Pequena Dolência (no prelo)

Só mais um poema, antes de dizer adeus. Estamos para aqui a desvendar um livro ainda escondido na gaveta do poeta, a estragar a surpresa que o Pedro Lopes Adão prepara para quando o livro for apresentado, um dia destes.
I Apenas sei que se consome quando diz “(…) adeus!” – e di-lo agora como um atalho, ululando a alma sentindo o perigo à espreita nas fendas de tantas vogais apoiadas em mentirosas consoantes. II Moldar os ouvidos aos sons que queimam. Poema Coração do Adeus, Pequena Dolência (no prelo)

Pedro Lopes Adão, aos 22 anos já publicou: Palavra em Queda, ed. Glaciar (2022) e Os Amorosos & Os Odiados, ed. Lema d’Origem (2023), Ars Longa, Vita Brevis, ed. Glaciar (2023). Recentemente organizou e coordenou o livro Alguns ensaios de quê? – Em homenagem a Ana Luísa Amaral, ed. Lema d´Origem (2023).
Um dia disse-me o brilhante Ramos Rosa, que em certa altura da vida eu visitava regularmente, que a poesia não devia ser muito explícita. Depois sabemos da polissemia da palavra e do direito que cada leitor tem de “escrever” novos livros na leitura.
Creio que este texto não vai estragar nenhuma surpresa, antes vai aguçar a vontade de conhecer melhor o novo poeta. E depois, com uma maturidade invulgar que justifica o já considerável trabalho para a sua idade, Pedro Adão terá o melhor e mais surpreendente guardado a sete chaves…
Conheço parte do que ele escreve e posso dizer que chegará longe, porque empenhamento, qualidade quase tão importante como o talento, não lhe falta.
De resto desejo-lhe o melhor neste caminho literário, que tem as suas surpresas.
Um abraço e muitos êxitos.
Gosto das palavras com liberdade, assim ao sabor da inspiração do autor. É diferente do habitual e atrevo-me a dizer que veio para ficar.
Boa sorte!
Tenho muito orgulho de ser amiga desses dois grandes artistas. Parabéns, Pedro e Bruna!
É me suspeito falar do autor porque conheço muito bem como pessoa e, também, como poeta, mas tenho de dizer novamente aquilo que sempre lhe disse: o seu talento vai chegar longe. Não era ao acaso que Maria João Cantinho escreveu no prefácio do seu terceiro livro que ele é uma das novas grandes novas jovens da poesia em Portugal. Tenho muito orgulho em saber que o Pedro, alguém que sempre considerarei um amigo especial e que me marcou como pessoa, estudante e mesmo no meu caminho da escrita, chegue longe com a sua obra. Ele não precisa que o diga mas tenho muito orgulho nele e na sua arte. E para as pessoas que vierem ler isto, não se vão arrepender de todo de ler a sua poesia. Quanto à ilustradora, Bruna Lages Veloso, se estas ilustrações já são belíssimas e refletem na perfeição os textos aqui apresentados, quando o livro sair, decerto que teremos todo o deleite de noa deliciarmos com estes esplendorosos desenhos que conseguem refletir muito do que vai na nossa mente ao ler os poemas. Muitos parabéns a ambos e estou ansiosa para comprar e ler o quarto livro.