Mulher entre os 50 e os 60 anos, encostada ao balcão numa loja de uma empresa de transportes públicos na região de Lisboa. Um único funcionário não conseguia despachar aquela cliente e a fila aumentava atrás dela.
Eram muitas questões a precisar de resposta. A começar pelos horários das carreiras de autocarros entre a Malveira e Lisboa. A cliente dizia que não percebia patavina do que estava no site da Carris Metropolitana, até porque a maior parte do horário está com a enigmática indicação “sem hora de passagem”. O funcionário dizia-lhe as horas estimadas de passagem dos autocarros e ela tomava nota num caderno.
Depois quis explicações sobre ligações intermodais. Qual a melhor opção para ir de Lisboa para o Porto, a partir da Malveira. Comboio? Flixbus? Expressos da Rodoviária Nacional? Em Sete Rios ou no Oriente? O que complicou ainda mais a procura pelos horários mais compatíveis entre as várias opções. Atrás dela, a fila continuava a aumentar. E os preços dos bilhetes…
Todos ouvíamos a conversa e ficámos a perceber que se tratava de uma professora (talvez do 1ºciclo) residente no Porto e colocada numa das escolas da Malveira. O problema dela era não só decifrar a questão dos horários, mas também perceber qual a opção mais barata para chegar ao Porto. Acabou por descobrir que não iria a casa todos os fins-de-semana. Porque o salário que sobra depois de pagar quarto e as despesas com a família a 300 e tal quilómetros de distância, não chega para comer todos os dias e ainda ir ao Porto todos os fins-de-semana.
Não se tratava de uma jovem professora em início de carreira. É uma professora quase a chegar à idade da reforma. Será um dos muitos casos de professores que não aguentam viver assim, longe da família, por tão pouco salário. O mais provável é daquia uns dias ou semanas, alegar esgotamento e ir para uma baixa médica prolongada. Ficará, então, em casa, perto da família.
Pelo que lemos nas notícias, este não será um caso isolado. Ainda há dias, a FENPROF dizia que há mais de 90 mil alunos sem pelo menos um professor, neste início de ano escolar. E que em 2023/24 se estima que 3.500 docentes com turmas atribuídas irão aposentar-se. O pior é que ninguém percebe porque razão as escolas não têm um quadro permanente completo de professores. Não se percebe a dificuldade em criar um ambiente laboral sereno nas escolas.