Protocolos que Matam – quando os extremos se unem

Nos meus primeiros artigos tentei explicar porque entendo que o “fenómeno covid” foi o culminar da guerra comercial China-EUA e o aproveitamento por parte de certos oligarcas (sim, há oligarcas a Ocidente, apesar de lhes chamarmos usualmente multimilionários) e grandes corporações de centralizar as tomadas de decisão de modo a ser mais fácil fazer lobby. Tentando, eventualmente, identificar a fagulha que causou o alastrar deste fogo pelo globo, direi que tudo começou em Itália. Mas porquê Itália?

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No pós II Guerra Mundial, os EUA instalaram-se como superpotência hegemónica através da venda de defesa aos países aliados, no objetivo de impedir uma nova militarização tanto da Europa como do Japão. O estratega geopolítico norte-americano Peter Zeihan compara esta abordagem a uma nova forma de imperialismo, que não podendo propriamente conquistar o território, como noutras épocas, vendeu influência política e, através desta, a sua cultura. Nos últimos 80 anos, portanto, o mundo ocidental estruturou-se com base no poder do complexo industrial militar dos EUA, uma estrutura  que parecia esquecida após a queda do muro de Berlim, em 1989, mas que se revitalizou com o 11 de Setembro, por meio do combate ao terrorismo. 

Mas os americanos não venderam só defesa. À medida que a Guerra Fria começava a desanuviar, em particular nos anos 70, passou-se gradualmente da venda de segurança para a venda de dívida. A título de exemplo, a partir de um livro lançado recentemente no mercado, John Perkins constata no seu “Confissões de um Assassino Económico” como os EUA, como o apoio do Banco Mundial, começaram a apostar numa abordagem de sobre-endividamento dos países de terceiro mundo, tornando-os dependentes por meio da dívida e perdendo, deste modo, a propriedade dos seus recursos naturais e energéticos para os norte-americanos. 

Tudo parecia bem a Ocidente, até se começar a assistir a uma inesperada, mais confiante, ascensão da China, país que no final dos anos 80 parecia que ia colapsar  face aos protestos na praça de Tiananmen. Mas o “Império do Meio” socialista, como constatam vários analistas, soube ouvir as queixas do povo e readaptar-se. O “milagre chinês” é feito sobre a égide “um país, dois sistemas” e o crescimento do poder económico das suas populações, uma forte competitividade interna e a gradual libertação de políticas que oprimiram os cidadãos durante décadas, como a política do filho único.

Mas a China não é um país livre. Embora exista uma certa liberdade individual, não há a liberdade política que existe a Ocidente, o que se traduz em algo tão simples como falar mal publicamente das políticas governamentais. Os seus cidadãos são constantemente vigiados e a China encontra-se na linha da frente de muitas políticas assentes na cibervigilância. No entanto, há quem julgue que essa é a sua força.

O rosto da atual China é o seu líder supremo, Xi Jinping, e de uma estratégia documentada – leia-se a este respeito o livro “Na cabeça de Xi” – de imitação do modelo imperialista, em particular o norte-americano. Não podendo vender defesa, começou a vender também dívida, em condições de forte concorrência com o modelo ocidental. A promessa: não se intrometer nas políticas locais. Pretendia-se, claro, que a venda de cultura acompanhasse a abordagem, com grandes comunidades de trabalhadores chineses a espalharem-se pelo mundo. 

E aqui entrou Itália.

Em 2013, um novo partido político formado pelo comediante Beppe Grillo, chamado Movimento Cinco Estrelas (M5S), começou a surgir no panorama político italiano. O ensaísta e analista político Guiliano Empoli coloca neste episódio o berço dos designados “engenheiros do caos”, ativistas políticos populistas e anti-sistema que começaram a usar as estratégias das redes sociais – diga-se algoritmos – para ganhar espaço na arena política, num momento em que poucos estavam alerta para as possibilidades destas novas ferramentas.

Não obstante a colagem imediata à extrema-direita, o M5S procurou desde logo formar relações estreitas com a China. Esta proximidade foi depois “vendida” ao povo italiano como uma forma de se promover a independência económica de Itália. Quando em 2018 Giuseppe Conte, membro do M5S, se torna primeiro-ministro, este objetivo é aparentemente concretizado com a entrada italiana na Iniciativa “One Belt, One Road”, por cá conhecida como “Nova Rota da Seda”. Este é um massivo projeto global de infraestruturas patrocinado pela China, e uma das grandes bandeiras de Xi Jinping, que deseja, deste modo, competir com os EUA na arena da dívida global. Itália foi o primeiro grande país europeu a aderir.

Nem por acaso, a 23 de março de 2019, no mesmo dia que Conte assinou a entrada na “Nova Rota da Seda”, a Ministra da Saúde da Itália, Giulia Grillo, membro do M5S, assinou também um Plano de Ação para a Cooperação em Saúde entre a Itália e a China, vinculando a Itália à cooperação com a China em certos campos, incluindo “prevenção de doenças infecciosas”.

Conta Michael P. Senger, no seu artigo “Neil Ferguson, China e um fanático socialista Ministro da Saúde: a história não contada de como os confinamentos chegaram à Itália e ao Ocidente”:

Em outubro de 2020, (Roberto) Speranza publicou um livro intitulado Why We Will Heal: From the Hardest Days to a New Idea of Health. Pouco depois de ser publicado, o livro foi retirado às pressas das lojas. O motivo declarado foi que a Itália estava a passar por uma segunda onda de Covid, mas ao ler o livro fica bem claro que Speranza, que assinou as primeiras ordens de confinamento no mundo ocidental, revela uma embaraçosa falta de preocupação com a própria Covid e um muito maior preocupação sobre como a resposta poderia ser usada para implementar reformas políticas de extrema-esquerda em toda a Itália. Como ele afirma em uma passagem reveladora: “Estou convencido de que temos uma oportunidade única de consolidar uma nova ideia de esquerda… Acredito que, depois de tantos anos indo contra o vento, existe a possibilidade de reconstruir uma hegemonia cultural sobre novas bases.”

Da mesma forma, Speranza diz que uma lição primária de Covid é que a OMS deve ser fortalecida e pediu que os Estados Unidos fossem impedidos de deixar a OMS. Em contraste, ao longo do livro de 229 páginas, Speranza nunca expressa qualquer crítica à China, indo tão longe a ponto de reconhecer que a China tem “um modelo cultural, político e institucional muito diferente”, enquanto defende laços mais estreitos com a China. “A China é uma grande protagonista do tempo que vivemos e estou convencido de que um importante espaço político se abre para a Europa, como uma dobradiça entre a nova potência asiática e os Estados Unidos.”

Speranza é líder do recém-formado partido político italiano Article One, fundado pelo ex-primeiro-ministro Massimo D’Alema, primeiro ex-membro conhecido de um Partido Comunista a tornar-se primeiro-ministro de um país da NATO. D’Alema agora atua como presidente honorário da Silk Road Cities Alliance, uma organização estatal chinesa. Speranza deixa claro que estava bem ciente, na época em que ordenou o primeiro bloqueio do mundo livre na Lombardia, na Itália, que estava a copiar uma política que só a China havia feito e que seria uma restrição aos direitos constitucionais fundamentais dos cidadãos.

Antes de ordenar os primeiros confinamentos do mundo ocidental, Speranza desempenhou um papel na Itália como um dos primeiros alarmistas da Covid (…) Speranza organizou as primeiras reuniões da task force de coronavírus da Itália antes de haver casos confirmados no mundo ocidental (…) Speranza diz que foi inspirado a fazê-lo pela resposta que viu na China.)

Michael P. Senger acaba por concluir que acedita que Roberto Speranza foi vítima da propaganda chinesa.

As consequências da adesão ao modelo chinês

Há quem afirme que a atual China há muito que deixou de ser, na essência, marxista ou socialista, tendo-se aproximado mais dos modelos fascistas ou nacional-socialistas. Na prática, esta é apenas uma inversão da lógica de raciocínio, na medida em que o poder político deixa de estar assente no povo, nos trabalhadores, para ser depositado numa elite que supostamente se encontra mais bem preparada, ou é mais “iluminada”, para lidar com questões políticas complexas. Porque o povo afinal, comentam os ditos “iluminados”, é estúpido e não sabe o que é melhor para ele e para o bem comum.

Esta lógica de raciocínio tem, porém, as suas consequências, porque até os “iluminados” são seres-humanos e têm as suas limitações, razão pela qual Maria Antonieta acabou na guilhotina e Napoleão morreu exilado em Santa Helena.

A adoção das estratégias chinesas não passou apenas pelos confinamentos mas também pela adoção de determinados protocolos hospitalares. É sabido que o número de casos em Bérgamo disparou quando chegaram… os testes e os ventiladores.  Há relatórios da OMS que davam a entender que os pacientes estariam a ser ventilados precocemente, em parte devido ao medo de contaminação. Esta ventilação precoce e excessiva terá sido a verdadeira causa do número elevado de mortes que se verificou na Primavera de 2020 em vários países.

Stella Paul, escritora de Nova Iorque, descreve como o protocolo adotado nos EUA teria perigosas promiscuidades lucrativas, conforme listado pela AAPS (Association of American Physicians and Surgeons). Nomeadamente:

– Um teste de PCR “gratuito”  obrigatório  na sala de emergência ou na admissão de cada paciente, com taxa paga pelo governo para o hospital;

– Adicionado pagamento de bónus para cada diagnóstico positivo de COVID-19;

– Outro bónus para uma admissão de COVID-19 no hospital;

– Um pagamento de bónus de 20% do Medicare em  toda a conta do hospital  pelo uso de remdesivir em vez de medicamentos como a ivermectina;

– Outro e maior pagamento de bónus ao hospital se um paciente com COVID-19 for ventilado mecanicamente;

– Mais dinheiro para o hospital se a causa da morte for listada como COVID-19, mesmo que o paciente não tenha morrido diretamente de COVID-19;

 – Um diagnóstico de COVID-19 também fornece pagamentos extras aos médicos legistas.

No final caso a morte fosse COVID, o familiar teria direito a ajudas de custo no funeral.

Em Portugal não foi muito diferente, apesar de algumas tentativas, noticiadas pelos media portugueses, de não se reduzir a abordagem ao uso de ventiladores, os protocolos acabaram por influenciar o excesso de diagnósticos e mortes por todas as causas. Enumero:

1 – Terem sido exclusivamente centrados na Covid.

2 – Não se terem articulado com os hospitais privados, estabelecendo-se protocolos para garantir que as outras doenças não ficavam sem assistência. Nomeadamente, no que toca a cirurgia programada e a rastreios oncológicos e diagnóstico precoce.

3 – Condicionarem o acesso dos outros doentes aos serviços de saúde.

4 – Comprometerem as consultas hospitalares e em centros de saúde com cerca de 1 milhão de consultas canceladas.

5 – Adiarem a cirurgia programada, com um agravamento exponencial das listas de espera.

6 – Adiarem rastreios de cancro do cólon e mama, com cerca de 400.000 rastreios do colo do útero a ficar por fazer, muitos deles de forma irrecuperável.

(Números do início de 2020)

7 – Terem quase completamente amputado a relação médico-doente, que se tornou praticamente inexistente durante a crise sanitária porque substituída por atendimentos ao postigo e telemedicina. E ainda não foi completamente recuperada.

8 – Não terem acautelado o supremo respeito pelo Consentimento Informado dos doentes.

9 – Terem comprometido a continuidade de tratamentos oncológicos por submissão ao resultado negativo dos Rt-PCR e, posteriormente, ao estado vacinal dos pacientes.

Claro que tudo isto seria esquecido e até valorizado se a prometida nova vacina com uma inovadora tecnologia desenvolvida em 9 meses tivesse conseguido controlar a pandemia e erradicado o vírus Sars Cov 2. Mas até isto é questionável.

O investigador Denis Rancourt publicou recentemente um artigo em que defende que o excesso de mortalidade foi devido às medidas de saúde pública aplicadas e posteriormente aos efeitos secundários das Vacinas.

Já Eyal Shahar, professor emérito de saúde pública em epidemiologia e bioestatística, refere a partir de um artigo israelita que todas as análises estatísticas às vacinas foram feitas sem ter atenção aos múltiplos vieses:

“A decisão de quem não vacinar não foi aleatória. Deve ter sido baseado em considerações médicas razoáveis, particularmente na expectativa de vida. Por exemplo, qual é o mérito de vacinar um idoso de 90 anos que sofre de demência avançada e câncer metastático?

Esses 4.114 residentes não vacinados estavam mais doentes para começar. A sua expectativa de vida era menor, independentemente da possível infecção por SARS-CoV-2, e é por isso que sua mortalidade não-Covid era várias vezes maior.

Dito de outra forma, pertencer ao grupo não vacinado foi um marcador geral de pior saúde. Ou vice-versa — pertencer ao grupo vacinado era um marcador de melhor saúde. Isso em média, claro.

O fenómeno que observamos aqui é chamado de viés do “vacinado saudável” e está bem documentado na literatura de pesquisa, que remonta às vacinas contra a gripe . O viés é muito forte em idosos frágeis residentes em lares, mas é visto em todas as faixas etárias da população em geral.

A implicação do fenómeno do “vacinado saudável” – ao estimar a eficácia da vacina – é chamada de viés de confusão. Uma comparação ingénua da mortalidade por Covid em pessoas vacinadas e não vacinadas, mesmo que ajustada por idade, é totalmente enganosa porque as últimas têm maior risco de morte para começar. Pelo menos parte de sua maior mortalidade por Covid, se não toda, não tem nada a ver com não ser vacinado. Eles são simplesmente pessoas mais doentes.”

Na China há a convicção de que só os mais iluminados têm o direito de Governar, tendo-se criado um sistema educativo altamente competitivo desde a base que estratifica e condiciona a vida dos seus cidadãos. Este espírito parece ter contaminado o Ocidente. Uma certa elite acredita que por ter mais dinheiro, por ter movido os últimos avanços tecnológicos globais, deveria decidir o futuro do planeta.

Talvez para preservar as hegemonia os EUA só precisem de parar de promover a guerra em vez de adotarem as estratégias totalitárias dos seus adversários.

 “Quem só sabe de medicina, nem de medicina sabe”.

1 COMENTÁRIO

  1. Muito interessante esta perspectiva da ligação entre a extrema-direita italiana e a China (que desconhecia), mas que explica de fato o papel da Itália no início da pandemia. Outro país muito afectado de início foi o Irão, outro adversário dos EUA. Ainda não se sabe porquê o Irão, talvez alguém explique.

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