Em Comoro, junto a Díli (a capital), tinham os Salesianos um grande complexo, que compreendia a escola e um campo de futebol (a prática do desporto sempre fez parte do sistema educativo salesiano). Perante a destruição de edifícios, o corte da energia eléctrica, o perigo iminente de serem mortas pelos ataques dos invasores, muitas pessoas se haviam acolhido a essas instalações.
Um dos soldados do exército indonésio, amigo do Padre Wong, não hesitou em, às escondidas, informar que estava previsto, para essa noite, um ataque em grande, de tropas especiais, para destruírem de vez essa espécie de «campo de refugiados». O pânico inicial que se gerou entre os refugiados foi, porém, rapidamente evitado, após uma reunião, em que se decidiu que os cinco salesianos responsáveis abrissem o portão de ferro e procurassem negociar com os atacantes.
Recolheram-se à oração, encomendaram-se a Nossa Senhora Auxiliadora, a padroeira dos Salesianos, e aguardaram.
O ataque previsto não se fez esperar. Apenas saltaram dos camiões, os militares indonésios deram em disparar sobre o portão. Houve mesmo uma granada lançada para o interior – felizmente não deflagrou. O tiroteio intensificava-se, sem fim à vista. O terror aumentava. Eis senão quando, vindo do portão, um brado em voz feminina se ergueu, bem forte, em indonésio: «Basta, basta! Voltem para casa!».
Fez lembrar, acrescento eu agora, aquele misterioso brado «Ter, ter, ter!», que a tradição conta se ter ouvido no auge da refrega da batalha de Alcácer-Quibir. Só que, em Alcácer, provocou desorientação; aqui, em Comoro, foi um grande silêncio que, de repente, se instalou e ficou-se logo com a impressão de que os camiões militares se iam embora. Alívio geral!
Pensou-se, de imediato, que o brado saíra do convento próximo, das freiras Ursulinas. Por isso, na manhã seguinte, foram lá bater-lhes à porta, para agradecer. Não, não tinham sido elas! Também elas tinham ouvido o brado, mas não sabiam donde viera.
Todos agradeceram, pois, Àquela que tinham invocado: Maria Auxiliadora.
O Boletim e os Salesianos
Publica a Província Portuguesa da Sociedade Salesiana (vulgo, Salesianos) um boletim bimestral, Boletim Salesiano, prestes a atingir agora o nº 600, que vai dando conta da actividade dos Salesianos pelo mundo.
Esta congregação, fundada quase espontaneamente por S. João Bosco, em finais do século XIX, para dar ocupação, nos arredores de Turim, aos jovens mais ou menos abandonados que a incipiente industrialização provocara, viria, paulatinamente, a abarcar o mundo inteiro, com a criação de escolas, fundamentalmente de índole profissional.
D. Bosco fora pioneiro, por exemplo, no âmbito da comunicação, fazendo publicações e fomentando as artes grafias. O aparecimento, em 1908, em Turim, da Società Editrice Internazionale, ainda hoje em actividade, é uma das consequências desse dinamismo incutido pelo fundador.
Recorde-se que, em Portugal, as Oficinas de S. José, em Lisboa, surgiram precisamente como escola tipográfica, onde se formaram grandes mestres dessa arte; e as Edições Salesianas, com sede no Porto, continuam a ser uma editora em plena actividade, mormente no campo da formação religiosa e profissional. Esse, o do ensino profissional, uma actividade pioneira que a miopia dos governos ocidentais não soube desenvolver. Após o 25 de Abril, uma das primeiras medidas foi mesmo acabar com o ensino técnico-profissional – e, hoje, apertam-se orelhas e não deitam sangue!…
PARA QUEM TEM FÉ, E ACREDITA!