É um fossil extraordinário, como se fosse uma fotografia tirada há 125 milhões de anos. Os dois animais estavam numa luta de morte quando ambos foram soterrados repentinamente por uma massa de lava expelida por um vulcão próximo. Foi morte instantânea.
E o que é mais extraordinário é o momento em que a morte chegou, quando ambos se digladiavam numa luta pela sobrevivência.
Um dos animais pertence ao vasto grupo a que chamamos genericamente dinossauros. Trata-se de um animal vegetariano. O outro é um mamífero tipo texugo, carnívoro, que atacava o primeiro.

O mamífero está classificado como Repenomamus Robustus e seria do tamanho de um gato doméstico. O outro é um Psittacosaurus Lujiatunensis, do tamanho de um cão médio. Embora mais pequeno, o mamífero atacava o animal maior. Há outros fósseis da mesma espécie onde foram encontrados ossos no estômago deste animal.
Tudo isto vem relatado ao pormenor num artigo científico publicado na revista Scientific Reports. Este fóssil é um achado interessante, de facto. Não só por retratar um momento dramático de luta entre dois animais que viveram há 125 milhões de anos, mas também por revelar que animais mais pequenos atacavam e se alimentavam de animais maiores.

Este fóssil foi descoberto no nordeste da China, na região de Liaoning, território conhecido por “Pompeia chinesa”, dada a quantidade de fósseis de animais enterrados em erupções vulcânicas que têm sido descobertos.
Tudo isto aconteceu muitos milhões de anos antes de outro mamífero ter começado a evoluir para se tornar também num predador temível: o homem.
Fontes: Scientific Reports e agência Reuters
Falamos hoje de milhões de anos, como ser falássemos de décadas, talvez porque a evolução científica nos permite esta aproximação com os factos ocorridos em períodos de vida tão remotos.
Quando comecei a ler um “dinossauro atacado por um texugo” o cepticismo invadiu-me. A representação mental de um dinossauro, mesmo bebé, não deixava absorver o elemento fundamental da questão: o mais pequeno era carnívoro e devia atacar quando sentia necessidade.
A importância (e beleza) deste fóssil parece encerrar uma lição: as forças da Natureza podem mais do que as dos seus habitantes. Como estes animais que perderam a vida, quando tentavam a vitória sobre a morte, também os homens devem começar a pensar que são finitos, podem menos do que julgam.
Não aprenderam as lições essenciais que tantos milénios deixaram.