EUSÉBIO E O ‘TÂMARA’

Ao fim de muitos e bons anos a dona Manuela e o senhor José Agostinho Gomes vão descansar e servir as últimas refeições no seu restaurante, no domingo dia 11 de Junho. Lisboa perde mais um restaurante popular emblemático.

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Foi no Tâmara que conheci o senhor Eusébio da Silva Ferreira, no final da década de oitenta do século passado,  num dos muitos almoços que ele organizava para os amigos. Telefonava antecipadamente ao senhor Zé e encomendava uma cabeça de garoupa ou de cherne, para cozer, com muitos grelos e hortaliça. Por vezes, quando havia na praça, lá vinha um robalo gigante para grelhar. O senhor Zé sabia escolher o peixe. Era a melhor casa de Lisboa para comer a cabeça de peixe.

Foi por aqui que começámos a conversar porque eu também era o organizador dos almoços de cabeça de peixe da Mafirol por delegação do grande companheiro Jorge Silva Lopes. Não raro coincidiam as duas mesas e não havia mãos a medir.

O Eusébio acompanhava com um bom vinho, sempre reserva ou colheita seleccionada e comia bem e devagar. No final da refeição o café e o Old Parr não podiam faltar e num ambiente mais descontraído surgia então a oportunidade para podermos conversar um pouco.

Restaurante Tâmara, sala de refeições

RECORDAR EUSÉBIO

Do futebol e da sua vida fui sabendo tudo mas retive das suas palavras a mágoa de nunca ter sido seleccionador nacional de Portugal. E ele explicava, com alguma razão dizendo que todos os grandes jogadores à excepção do Péle, que se tinha tornado político, todos tinham treinado a selecção do seu país. Franz Beckenbauer, Michel Platini, Kevin Keegan, Dino Zoff, Zagallo. Mas havia um aperto naquele coração, uma sentimento de alguma ingratidão. E eu concordava com ele porque à época tivémos alguns seleccionadores incompetentes e, se calhar, um vulto enorme como ele, talvez pudesse ter feito a diferença. Grande Eusébio! Viva o Benfica!

Os joelhos também o atormentavam muito, tudo por amor ao Benfica, o Benfica a quem deu tudo  e por quem contava histórias sem parar, uma delícia.

E estar perto dele só muito mais tarde percebi o privilégio, eu e todos os outros, e o mundo que dele se despediu numa noite de chuva para a glória eterna.

Obrigado Eusébio.

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