Biden estava em Vilnius, na cimeira da NATO, quando acusou Putin de ter um “desejo de terra e poder”, um ímpeto ganancioso ou algo do género, razão pela qual terá invadido a Ucrânia. A novidade desta afirmação é o tom brejeiro que, pelos vistos, dá forma à atual visão estratégica dos Estados Unidos da América.
É evidente que uma afirmação deste teor apenas serve para soundbytes televisivos e títulos de jornal. Talvez funcione para pôr o povo a acenar com bandeirinhas, mas não serve para mais nada. Nem a guerra termina nem Putin se vai arrepender das decisões que tomou.
A verdade é que Biden está tão agarrado ao poder quanto Putin. O atual Presidente dos EUA foi vice-Presidente nos dois mandatos de Obama, entre 2009 e 2017. Voltou em 2021 depois de derrotar Trump nas eleições. Putin chegou à Presidência da Rússia no ano 2000 e, desde então, tem alternado a Presidência com o cargo de primeiro-ministro, sempre através de eleições.
Formalmente, não há nada que prove que as eleições russas são mais ou menos aldrabadas que as americanas. As cartas do jogo são semelhantes: o povo vota nos partidos e nos candidatos que melhor conhece, que são aqueles que melhor controlam o sistema.
Antes de ser presidente e vice-Presidente, Biden foi senador durante décadas, num país sempre em guerra contra alguém. Nesse papel, votou favoravelmente as intervenções militares dos EUA na Bósnia (1994), no Iraque (2002). Como Presidente, foi o responsável pela retirada do Exército dos EUA do Afeganistão, permitindo o regresso dos taliban ao poder. Foram 20 anos de ocupação militar inútil mas mortal para milhares de soldados americanos e centenas de milhar de afegãos.
Putin foi oficial dos serviços secretos da União Soviética durante 16 anos. Depois dedicou-se à política. No último Governo da URSS foi assessor de Bóris Ieltsin que acabou por nomeá-lo primeiro-ministro. Quando Ieltsin abdicou, Putin estava no sítio certo e tornou-se Presidente interino, em 1999. No ano seguinte venceu as eleições.
Biden pertence ao Partido Democrata, uma espécie de centro-direita dos EUA. Putin começou na política no Partido Nossa Terra, um defensor do liberalismo económico. Depois passou para o Partido Rússia Unida, de centro-direita.
Posto isto, poderemos dizer que Biden e Putin têm percursos políticos parecidos. Isto é, nenhum deles é comunista. Ambos são imperialistas.
Putin pretende preservar ao máximo o Império russo, um império continental conquistado ao longo de séculos pela espada dos czares, que já se estendeu por três continentes e 12 fusos horários.
Biden defende o Império dos Estados Unidos, um império construído pelas multinacionais e o 7º Regimento de Cavalaria, um império económico, político, cultural mas, também, territorial, sustentado por bases militares espalhadas por todo o mundo (uma delas nos Açores).
A guerra na Ucrânia resulta do choque entre estes dois impérios.