De Marcello (com dois LL) Caetano, a maioria de nós já nada sabe. Sim, foi o sucessor de Salazar, depois da bendita cadeira ter levado o ditador ao tapete. Nunca um carpinteiro teria sido tão valioso para o velho regime, mas não era assim que se olhavam as profissões populares. Não era então, continua a não ser hoje.
Ora, depois de assoprar a poeira da capa de “Ensaios Pouco Políticos”, a curiosidade levou a ler primeiro o último capítulo dedicado às “Regiões e Municípios”, tema que sempre dividiu as opiniões dos políticos após a revolução de abril de 1974.
Entre muitas outras coisas, eis o que Marcello escreveu sobre isto:
“(…)O único modo de combater o êxodo rural e o urbanismo conducente ao empolamento de gigantescas metrópoles de milhões habitantes será mediante a ordenada distribuição de cidades mais pequenas por todo o território do país.”
Adivinhamos uma intenção, secreta talvez, de Marcello pretender promover algum projeto de regionalização. Não sabemos, mas em 1967 era assim que pensava o dirigente português. Os que vieram depois poderiam ter percebido a validade destas ideias. Se perceberam, nada fizeram. A desertificação do interior acelerou-se nas últimas décadas, é uma espécie de faroeste de celuloses ou de agricultura intensiva. Nada que ocupe mão-de-obra e retenha populações nas aldeias. As necessidades sazonais são colmatadas com imigrantes laborais pagos à malga de sopa. Desde Marcello, muita coisa pouco mudou.