A III Grande Gala da Morna, numa iniciativa do grupo Carlos Silvestre & Amigos, com a colaboração da Estoril-Sol, celebrou, na noite do passado dia 5, o 48º aniversário da independência de Cabo Verde e homenageou o compositor-intérprete cabo-verdiano Antero Simas.
Esteve, por isso, presente Eurico Correia Monteiro, EmbaixadorExtraordinário e Plenipotenciário da República de Cabo Verde, que teve ocasião de subir ao palco para agradecer e se congratular com o brilhantismo da iniciativa. E até houve sorteio da estada de uma semana na Ilha do Sal, a fim de mais nos entusiasmarmos a ir visitar aquele encantador país irmão.
Património imaterial da Humanidade, a morna enleva-nos com a serenidade que dela dimana, uma «morabeza» infinda, penetrante…
E isso sentiu o público (muito originário daquele arquipélago que por aqui se fixou) que vibrou no Salão Preto e Prata, não apenas com as vozes dos intérpretes – que estiveram, numa mesa no palco, em jeito de mui descontraída confraternização, diante de umas garrafitas de tinto… – mas, de modo especial, com os magníficos arranjos, primorosamente executados pelos músicos. Aliás, em cada actuação, naquela imprescindível pausa do canto para dar lugar aos instrumentos, houve o cuidado de, em solo, cada um dos músicos, mostrar o seu primoroso virtuosismo. Parabéns!
Ana Azevedo, solene e sorridente, deu o mote. Zézé Barbosa, esquerdino e de longa cabeleira, trouxe uma voz quente. Ana Laíns, fadista, vestida a rigor, encantou-nos com a sua versão d’A Casa da Mariquinhas, casando, assim, o fado com a morna que interpretou a seguir. O veterano Leonel Almeida, cabo-verdiano, não parou quieto no palco e passeou-se por entre a plateia, cantando e cumprimentando. Duas interpretações cabiam a cada um. Lucibela, imponente, de ampla cabeleira e voz funda, de amplo vestido róseo, foi a morna em pessoa. Danny Silva – a gente conhece o seu enorme valor. Ana Firmino, testa alta, anciã sem pruridos no seu largo vestido vermelho, aumentou a «morabeza».
A terminar – antes do canto final em que todos participaram – a sedutora juventude de Inês Fonseca comungou muito bem com o nosso veterano Carlos Alberto Moniz: ela fizera a letra, num louvor às ilhas cabo-verdianas; ele deu à letra a forma musical – e ambos nos agradaram a valer.
Uma noite memorável? Sim. Passou-se num ápice e mais num ápice se passaria se o organizador-apresentador não tivesse cedido à tentação de falar tanto e de tanto elogiar toda a gente. Fez-me lembrar – que se me perdoe o desabafo – o dia em que, num congresso em Sófia (Setembro de 1987!), eu declarei ser «importante» o que estava a apresentar; no final da sessão, com malicioso sorriso no olhar, um colega meu comentou: «Ficámos todos bem cientes de que é importante o que estás a fazer!». Percebi o recado amigo: não era a mim que competia qualificar de ‘importante’. Que Carlos Silvestre o compreenda também futuramente.
Fotos gentilmente cedidas por Conceição Alves / Casino Estoril