Desumanizar um ser humano é retirar-lhe as características que o identificam enquanto tal. Na Alemanha nazi os judeus eram frequentemente desenhados em cartazes de propaganda com se fossem ratos ou porcos e também eram protagonistas de histórias infantis em que raptavam ou maltratavam e matavam as crianças louras arianas. No Estado Novo tivemos os comunistas que comiam as criancinhas.
A indignação do primeiro-ministro num primeiro tempo contra o mau gosto e acto contínuo contra o racismo tem suporte ideológico porque os cartazes são racistas e a associação não é de hoje. Expressões como “porco de Goa” são comuns nas redes sociais sempre que há referências a António Costa e os cidadãos, supostamente professores, que empunhavam os cartazes têm consciência disso. Processos nazis de atuação em público devem ser condenados, mas uma vez mais vamos ficar a inquinar o debate sobre aquilo que é ou não é racismo.
O racismo não se define pelas nossas convicções pessoais, mas sim pelas convicções do ofendido. Se Costa sentiu racismo, então foi racismo.
Desumanizar para poder odiar, desumanizar para poder diabolizar, desumanizar para poder ostracizar, são etapas para a negação do outro e permitem destruir a solidariedade. Foi assim que o nazismo conseguiu colocar pessoas normais, vizinhos, a trabalhar nos campos de concentração e a guiar calmamente milhões de pessoas para a morte.
Não estamos no Carnaval, ou num qualquer arraial, era o dia 10 de Junho em que foram levantados cartazes idênticos aos nazis, por supostos professores.
A liberdade não tem preço, mas custa muito a manter.