A mentira tornou-se uma questão íntima da política. O caso TAP (em todas as suas dimensões) é exemplo disso.
Resumindo, temos o assessor Francisco, despedido, que acusa o ministro Galamba de querer mentir e esconder documentos à Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAP (CPI). O mesmo assessor acusa o ministro de o ameaçar com dois sopapos e é acusado de agredir várias senhoras que trabalham no gabinete do ministro Galamba. Nenhum dos agredidos exibiu nódoas negras.
Temos os “serviços secretos” a manobrar na via pública para recuperar um computador com segredos de Estado, sem alguém que assuma a responsabilidade de ter pedido o serviço. Também não sabemos que segredos de Estado são esses, porque é segredo.
Temos o ministro Medina a dizer que o parecer jurídico sobre o despedimento da presidente da TAP não existe, depois do seu próprio Ministério ter informado o parlamento de que esse parecer não iria ser enviado à CPI por estar fora do âmbito de trabalho dessa mesma CPI. A existência desse documento tinha antes sido admitida implicitamente por outras duas ministras do Governo.
A oposição acusa o PS de manipular os trabalhos do parlamento, nomeadamente quando promove reuniões entre deputados socialistas e a presidente da TAP, quando toda a gente sabe que deputados de todos os partidos e ministros de qualquer Governo reúnem com quem querem, sejam administradores de empresas públicas ou privadas, quanto mais não seja para tratarem do seu futuro quando deixarem de ter funções políticas.
Antes destas barracas todas, a TAP estava um brinco, a dar lucro finalmente, depois de uma época de trevas. Resultados positivos de 65,6 milhões de euros em 2022. Ainda assim, despediram a senhora que presidia ao conselho de administração. E há quem diga que os tais lucros, afinal, resultam de benefícios fiscais e dos cortes salariais à pala do covid.
E há a questão de saber quem autorizou a indemnização de 500 mil euros à administradora Alexandra Reis, em que todos os elos da cadeia de comando apontam para o parceiro do lado, tipo “não fui eu, foi ele”.