«FREE» ESTEVE EM CENA NO MIRITA CASIMIRO

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Sabemos dos condicionalismos que envolvem a preparação e a vida duma peça teatral em cena. Económicos, sobretudo, mas também pessoais. Neste caso, pesa-nos não tenha havido a possibilidade de ser mais alargado o tempo em que o Teatro Gíria, em estreita colaboração com o Teatro Experimental de Cascais, apresentou, no Mirita Casimiro, a peça FREE, escrita por Miguel Graça.

De 18 a 28 de Maio foi muito pouco tempo!

Primeiro, pelo conteúdo. O retrato vívido, lancinante, do trabalho (sim, trabalho, palavra várias vezes pronunciada no decurso do espectáculo) dos voluntários, que, no Mediterrâneo, se entregam de alma e coração a salvar vidas, em circunstâncias do maior dramatismo, impregnado sempre de urgência, a exigir mão forte, a fim de o sucesso à vista não redundar em tragédia maior.

Tudo servido por um texto contido, acutilante, inesperado.

Segundo, pela encenação. Não era nada fácil. O engenho dos artistas experientes consiste em dar a sensação de que o foi. Rodrigo Aleixo na encenação; José Manuel Castanheira na cenografia.

O palco, todo um enorme círculo branco, onde simples e geométricos blocos cinza se foram dispondo ao sabor da situação. O que interessava eram as palavras, as histórias, as… vidas!

Aplauda-se essa simplicidade. Aplaudam-se os figurinos – de branca leveza e originalidade, saídos da inexcedível experiência de Fernando Alvarez.

Terceiro, pelo espectáculo, onde a percussão, a cargo de Miguel Sobral Curado, desempenhou papel fundamental (cá está: a simplicidade em acção!,) a marcar transições, a vincar momentos.

Dois pormenores não posso deixar de destacar pelo seu grande significado:

– Durante o intervalo (os espectadores poderão ter saído para espairecer, mas o espectáculo continuou!…), dois personagens, em círculos concêntricos, limpam, pausada e cuidadosamente, o chão, como que a proclamar, em silêncio fecundo: «Muito há ainda a limpar, senhores!».

– O espectáculo termina com um dos refugiados a declinar, sozinho, o seu nome. As luzes apagam-se. Faz-se um grande silêncio. Os espectadores só momentos depois se apercebem de que o espectáculo chegou ao fim. O nome! Sim, todas essas pessoas têm nome!…

E, claro, magnifico o desempenho dos doze actores. Todos. Bárbara Branco, a protagonista, a merecer, sem dúvida, um prémio maior. Ela é a professora simpática; ela é, na aparente fragilidade feminina, o motor, a voz forte, a comandante que nunca pode tergiversar! Realce também para Manuela Couto, no papel caricaturado da mãe-bem, «Credo, que horror, filha, esses desgraçados!…». Rivânia Saraiva, cabo-verdiana, acompanha bem a comandante. Aliás, merecem todos que seus nomes aqui sejam exarados; Daryab Rasoli (afegão), Francisco Monteiro Lopes, João Gaspar, Mário Coelho, Patrícia Fonseca, Afonso Lourenço, Maria Mingote, Tomás Vinhas e Vasco Maranha. Saídos quase todos da Escola Profissional de Teatro de Cascais e já com currículo consolidado.

Pois é: um espectáculo que devia ter estado mais tempo e que muito bom seria se tivesse sido gravado e pudesse percorrer o País!

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