No dia em que Carlos III foi finalmente coroado, as ruas de Londres foram palco de várias manifestações anti monarquia. A polícia do reino deteve muita gente, como medida preventiva de eventuais excessos.
Nos corredores da política, onde a polícia não mete o bedelho (por enquanto), também há movimentações que procuram destronar o chefe do Estado.
Um desses atores antimonárquicos é a Fundação Sortition, onde se congemina a demolição paulatina do regime. Por exemplo, já apresentaram publicamente a ideia de substituir a House of Lords por uma House of Citizens. Traduzindo: apear os lords e substituí-los por cidadãos eleitos.
A House of Lords (Câmara dos Lordes) desenvolveu-se a partir do “Grande Conselho” (Magnum Concilium) que aconselhava o rei durante a época medieval. A época medieval já lá vai, mas há famílias que mantêm quase intactos os mesmos privilégios.
A House of Lords, é a segunda câmara do parlamento britânico, mas os seus membros são uma mistura de pessoas nomeadas pelo governo, aristocratas que herdaram a posição dos seus pais (!) ou representantes da Igreja Anglicana. Uma maioria de velhos e velhas barrigudos e barrigudas, sempre muito emproados.
A proposta da Fundação Sortition é a de criar uma câmara mais democrática, com uma assembleia de cidadãos a funcionar em permanência.
Ninguém questiona a democraticidade atual do parlamentarismo inglês, apenas querem eliminar de vez os resquícios de tempos em que o poder não era democrático. Os reformistas da Fundação Sortition dizem que os privilégios dos Lords não fazem sentido, num tempo de enormes dificuldades para o cidadão comum, “é obsceno que mais de 100 milhões de libras por ano de dinheiro dos contribuintes vá para a Câmara dos Lordes, que parece uma aldeia de reformados para políticos desatualizados e caducos, uma espécie de bar aberto para esses políticos, uma relíquia dos tempos antiquados em que os assentos no governo eram um direito de nascença. Não admira que a maioria dos Lordes apareça adormecida ao volante.”
Um discurso nada meigo. Colocar em questão a existência desta câmara legislativa é questionar diretamente a própria monarquia. O rei é ali que se senta, entre os seus pares, num trono que mais parece um altar em talha dourada.