UM ROL DE DISPARATES

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De 2009 a 2013 fui professor de Património Cultural na Licenciatura em Turismo, da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, em Lisboa.

E, dada a minha vertente jornalística, não quis deixar de apresentar aos meus estudantes um trecho sobre a nossa capital e as suas potencialidades turísticas publicado numa revista brasileira de turismo. Dupla era a intenção: desafiá-los a descobrirem o que aí não estava certo e, por outro lado, a acautelá-los acerca da necessidade de usarem o seu espírito crítico acerca das informações que lêem e, além disso, a veementemente os esconjurar:

– Ai de vocês se me aparecem com textos destes, de vossa autoria, numa publicação séria! Se, para gozo, num panfleto para uso ‘da malta’, aceito, até me congratulo, porque também precisamos de exercitar o nosso sentido de humor!

– Mas, perguntar-me-ão, o que dizia, afinal, esse recorte?

Um momento! É que, antes de se ler, é preciso saber que foi publicado na revista “Turismo & Negócios”, editada em Maceió (Brasil), que circula em todo o espaço económico da América do Sul (Mercosul), existe também na internet e avisa na ficha técnica que “transmite informações aos jornalistas da imprensa especializada, agências de viagens, hotéis, companhias aéreas, operadoras turísticas e entidades de turismo em geral. E AINDA está presente em grandes eventos.”

Preparados? Aí vai:

Dispenso-me, obviamente, de comentar e de repetir aqui a demorada conversa que tive com os estudantes, esmiuçando cada um dos mui significativos pormenores.

Ora foi isto há mais de uma década e eu imaginei que textos desse teor jamais voltariam a aparecer. Puro engano!

Na sequência da crónica em que falo do Museu Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas, situado na freguesia de S. João das Lampas e que é, por isso, um dos locais históricos a visitar por quem por essas paragens adregue passar, fui levado, não sei bem como nem porquê, à página da autoria de Mariana Albano (é este o nome que aparece).

Itens a explorar nessa página:

– ‘Home’ (onde aparece o nome Museu Aquiologico de  Odrinhas [sic] e se fala das suas actividades (conteúdo retirado da página do Museu);

–  ‘Informações úteis’ (conteúdo retirado da página do Museu);

– ‘Apresentação’ (conteúdo retirado da página do Museu);

– ‘Contacto’ (fica-se, na dúvida, se será o do museu ou o de Mariana Albano).

Sim, bem sei, saltei o item «Odrinhas». Então, se me está a seguir e tem curiosidade, eu faço uma pausa. Vá lá. Clique na palavra! Eu mostro o que me surgiu:

«São Miguel de Odrinhas é um município localizado no norte de Portugal, no distrito do Porto. Está situado nas margens do rio Douro e é conhecido pelas suas exuberantes paisagens e monumentos históricos. A cidade tem várias atracções turísticas, incluindo a Igreja de São Sebastião, o Castelo de Odrinhas, a Capela de São Roque, as Ruínas do Convento de São Francisco, e o Palácio de São Martinho. Os visitantes podem desfrutar de vistas deslumbrantes da torre de San Sebastian ou explorar as ruínas do Convento de São Francisco. Há também muitos restaurantes à escolha, que oferecem pratos tradicionais portugueses, bem como cozinha internacional. São Miguel de Odrinhas é um óptimo lugar para visitar se procura um ambiente descontraído e muitas paisagens bonitas!».

‘Torre San Sebastián’ encontrei várias: em Benidorm, Barcelona, Vigo… ‘Capela de São Roque’ (não confundir com a conhecida igreja de S. Roque, do Largo da Misericórdia, em Lisboa, encontrei a que esteve ligada à Marinha, «construída em 1760, segundo projeto de Eugénio dos Santos, foi sede da Irmandade dos Carpinteiros Navais». ‘Ruínas do Convento de São Francisco’ atirou-me logo para Évora e a Capela dos Ossos,  mas há por esse País fora vários conventos de S. Francisco em ruínas; nenhum em Sintra. ‘Palácio de São Martinho’ só se for o dos Condes de São Martinho, que fica em Lisboa.

Quis saber quem era Mariana Albano. Além da referência «Mariana Albano, Author at Museu Arqueologico de Odrinhas», encontrei várias licenciadas que, nas redes sociais, se identificam com este nome. Achei melhor não contactar com nenhuma delas.

4 COMENTÁRIOS

  1. De facto não vale a pena contactar a autora. Com tanta inverdade que assina, nada de credível podia adiantar. Mas…e o Museu, se tanto ela remete para a sua página?
    Em bolandas terão de andar os turistas que vão ao Norte, à procura do São Miguel de Odrinhas do Sul, em S. João das Lampas. Ou que vão a Espanha, ou…
    Inacreditável. Nunca vi uma tal confusão.
    Depois de clicar em “palavra”, só posso concluir que a autora vinha, muito baralhada, de um jogo daqueles, ou de um texto que a levasse a misturar os itens. Mas o Turismo, os agentes económicos de fora, ficariam muito confusos (e os de dentro prejudicados) se não estivéssemos em tempos de pluralidade de informação.
    Gostei muito de ler o texto.

  2. Caro Professor, apenas um comentário: valha-nos alguma nossa senhora da ascensão turística… (ainda por canonizar, evidentemente).

    • Inacreditável! Só pode ser brincadeira! A ser verdade, há muita gente idiota e fora de qq controle. Mas também já nada me admira hoje em dia.
      Obrigado pelo seu texto. Muito lúcido, como sempre.
      Cumprimentos

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