PARTIU O CRIADOR DO MONUMENTO!

Faleceu, na noite de 31 de Março para 1 de Abril, David Correia Encarnação, o criador do monumento que, na Rotunda Carlos Zel, em Birre, evoca o trabalho da pedra na freguesia de Cascais.

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Era um dos seus sonhos. Nas décadas de 50 e 60 arduamente aqui trabalhara, nas pedreiras de Birre, como canteiro. Para aqui viera de S. Brás de Alportel, sua terra natal, como muitos outros, operários da pedra, no momento em que essa actividade, proporcionada pelo grande incremento da construção civil, constituía uma das primeiras fontes de riqueza do concelho de Cascais. Trazia consigo a tradição do trabalho da pedra, actividade grande da sua terra, nomeadamente nas pedreiras dos Funchais.

Daqui, David Encarnação emigrou para o Canadá, no momento em que também nesse país a necessidade desse tipo de mão-de-obra se fazia sentir (aliás, algarvio do Barrocal é homem que não pára muito num sítio e anseia sempre por algo melhor…). Por lá esteve até se reformar e regressar à sua terra natal, S. Brás de Alportel. E desde logo, após ter visto aí o geoponto dos Funchais, singelo monumento evocativo da maior actividade da zona, sonhou em que haveria de fazer outro igual em Cascais onde também passara boa parte da sua vida.

De pronto a Associação Cultural de Cascais abraçou a ideia, apoiada de imediato pela Junta de Freguesia e pelo Município. Uma das pedreiras ainda então em elaboração – a de José Policarpo Duarte – forneceu o bloco de azulino; por cima, colocou-se um barril, em lioz são-brasense; a placa com os dizeres é de mármore de Vila Viçosa e os dizeres foram gravados por Celestino Costa, um dos canteiros de S. Domingos de Rana.

Significa o barril, esculpido por David Encarnação, as tabernas, lugar de convívio dos que, então, trabalhavam nas pedreiras; e no bloco se esculpiram também, em baixo-relevo, os principais instrumentos usados: maceta, bujarda, escopro, ponteiro, esquadro.

Foi, sem dúvida, esse dia de S. Martinho de 2006 – com a presença de muitos populares, do presidente da Câmara, António Capucho, e do Presidente da Junta, Pedro Silva, e de uma representante do Município de S. Brás de Alportel, Dra. Custódia Reis ­– um momento alto da vida deste canteiro que ora nos deixou. O seu nome fica, assim, perpetuado, no monumento que imorredoiramente recorda, no coração da freguesia de Cascais, uma actividade de que muito se tem de orgulhar.

Que o incansável sonhador descanse em paz!

3 COMENTÁRIOS

  1. Não tive o prazer de conhecer esse criador do monumento. Mas sensibilizou-me essa homenagem que lhe faz o professor José d, Encarnação, um genuíno amante de pedras em que está esculpida psrte da historis da Humanidade

  2. Já tinha lido que a gente do Barrocal, todos os algarvios, têm espírito empreendedor e ousado. Por um lado fazem pela vida, sem medo, por outro dão corda aos sonhos.
    Acolher a oferenda deste senhor, que quis deixar os símbolos do seu trabalho no concelho onde viveu e terá sido feliz, foi uma atitude louvável e inteligente das entidades que o apoiaram.
    Afinal todo o trabalho bem executado é arte, e arte é sempre cultura, memória.
    São as boas memórias que devem ser preservadas e assim este texto curto de José d ´Encarnação tem um significado intenso.
    Todos morreremos um dia, mas a vida terá valido mais quando dela fica uma marca indelével.

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