JORNALISTAS POBRETANAS

Jornalistas mal pagos são mais fáceis de controlar. Principalmente, ficam muito mais barato. É nisto que estamos.

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Cem euros por mês são 3,33 euros por dia. É este o aumento que o Governo tem negado aos trabalhadores da Lusa. O ministro da Cultura, que é quem tem a tutela da agência de notícias, sabe bem que é um aumento mínimo para quem não vê o salário real aumentar há 12 anos. Ainda assim, Pedro Adão e Silva diz que “há uma questão que é transversal a todas as empresas públicas, não há nenhuma excecionalidade no caso da Lusa.”

Mas a Lusa não é uma empresa pública. Os jornalistas e demais trabalhadores da Lusa não são funcionários públicos. Sensivelmente metade do capital social da Lusa é de privados. A Lusa é uma sociedade anónima onde o Estado tem 50,15% do capital social. Equiparar a Lusa à Função Pública é uma incorreção, que se invoca quando dá jeito.

A verdade é que na redação da Lusa há dezenas de jornalistas que ganham o salário mínimo nacional. E há dezenas de jornalistas que não têm qualquer vínculo formal com a empresa, mas que cumprem horários completos de trabalho, a quem são dadas folgas e férias, como se fossem trabalhadores plenamente reconhecidos como tal.

Estamos só a falar das redações principais, Lisboa e Porto. Se incluirmos nesta conversa a situação laboral dos correspondentes, regionais ou internacionais, vamos encontrar algumas situações de grande precariedade e exploração laboral.

Mas as declarações públicas do ministro têm sido para dizer que as remunerações da agência Lusa são, “em média, bastante superiores” às dos restantes profissionais do setor. A isto, os jornalistas respondem que a realidade do setor é marcada por salários indignos e precariedade que a própria Lusa também pratica, mas comparar a Lusa com uma qualquer outra empresa de comunicação social que pratique salários ainda mais baixos e ainda maior precariedade não deveria ser argumento para um Governo que pretende ter políticas de dignificação do trabalho.

Será mais ou menos isto que diz a ‘Carta Aberta’ que o ministro não conseguiu evitar receber. A Agência de Notícias Lusa conhece a agenda diária de todos os ministros e dirigentes da oposição, deputados e quejandos. Se os jornalistas da Lusa querem apanhar um ministro ao virar da esquina, não há como evitar o encontro. Este aconteceu à porta da Escola Superior de Comunicação Social do Instituto Politécnico de Lisboa, em Benfica, onde decorreu um evento em que o ministro participou.

“Não vamos ter uma reunião em público”, disse o ministro, eventualmente desagradado com a possibilidade de haver ali um debate em público, ainda que curto, com os jornalistas da Lusa.

Os primeiros 4 dias de greve foram cumpridos, sem que tenha havido uma única notícia produzida pela Lusa entre 30 de março e 4 de abril. Se nada mudar, a LUSA voltará a parar 4 dias entre 9 e 12 de junho e mais 4 dias de 3 a 6 de agosto, coincidindo com a Jornada Mundial da Juventude e com a presença do Papa Francisco em Lisboa.

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