A poesia é um produto normalmente consumido por elites culturais, mesmo a dita poesia popular acaba por ficar nessa redoma e raramente o público reconhece o nome de um poeta. A questão é se os poetas fazem algum esforço para captar o interesse das massas ou se ficam contentes por serem reconhecidos apenas pela elite.
– A questão que me propõe é deveras difícil de responder, não tanto pelo carácter hermenêutico, antes por consistir num traço singular de cada artista, neste caso, de cada poeta.
Muitos poetas procuram a aclamação de um público alargado por quererem adquirir amplitude geográfica e, consequentemente, alguns benefícios, como deixar cair a produção numa banalidade: o estilo, aquilo que define o artista enquanto tal, desvanece-se em ordem de agradar um pouco a todas as opiniões, espectros cromáticos. Por outro lado, teremos sempre os irremediáveis das elites – medito, todavia, se teremos uma elite intelectual nos nossos dias. Acredito que um lobby de ‘alta roda’ sim, restrito a sujeitos de condições muito favoráveis socioeconómicas de todas as profissões, muito embora os poetas gravitem mais nesse ciclo do que dentro dele, por vias do mecenato, altos patrocínios, etc.
Se me perguntar no meu caso, é muito simples. Escrevo por achar que tenho de colocar determinada mensagem acessível a todos: se quem me lê é das elites ou das massas não me interessa, sou alheio: a obra é de todos a partir do momento que o prelo a manda para as livrarias.
– A sua incursão pela poesia é um impulso ou uma opção racional? Quero dizer, é paixão ou profissão?
– Terá começado como um impulso entre a vertigem dos 15-16 anos com a leitura de António Nobre e outros decadentistas/simbolistas. Progressivamente, por vias do estudo contínuo e do exercício, a razão tomou as rédeas; lembro-me de produzir muito nessa fase… era muito inexperiente, queria manipular a palavra, o verso, ver o que se podia fazer, seguir as regras e, de esgueira, torcê-las, como se estivesse a exercer um ofício de mestre antigo.
Obviamente que depois da experimentação e de um relativo sucesso houve sempre a oportunidade de fazer da poesia profissão. Recuso-me. É paixão. Será sempre paixão. Paixão movida pela razão, pensamento crítico.
– Sendo improvável que a poesia por si só mate a fome ao poeta, o Pedro pretende fazer o quê como modo de vida?
– Ah! Mata de fome, isso sim. Mas não é assim com tudo nestes dias? Reconheço efetivamente que os homens e mulheres de Letras sempre tiveram o problema da subsistência (infelizmente não sou herdeiro de nenhuma grande herança que me permita tirar férias na casa de campo só para a escrita). Sou muito realista quanto ao como projeto o futuro. Há duas vias: ou sigo o percurso universitário e tenho a sorte de ele me galardoar como empregado desse mesmo ramo ou, então, procuro fazer trabalho no ramo editorial, escritório, qualquer coisa, nem que seja um humilde bartender. Não posso é ficar sem a escrita – qualquer profissão tem de permitir esta respiração.
Portanto, não é de todo impossível que, um dia destes, num bar do Porto, tenhamos um poeta a chocalhar cocktails ou a deitar pedras de gelo no whisky. Há vidas com menos graça. Mas o foco deste poeta está, evidentemente, na produção literária, embora na poesia de Pedro Lopes Adão, copos e fumo não sejam ambientes estranhos…
– Que projetos de poesia tem em mãos, neste momento?
– Neste momento tenho o lançamento do meu 2° livro de poesia em mãos “Os Amorosos & Os Odiados”, prefaciado por Pedro Villas-Boas Tavares e A.M. Pires Cabral.
No prefácio de ”Os Amorosos & Os Odiados” vem a garantia que estamos perante um poeta avesso a lóbis e a modismos. Garantem-nos que é um precursor de uma nova poesia, uma voz distinta.
Estamos cá para te ler, Pedro.
Também eu lerei o Pedro Adão, que sabe muito bem como traçar um caminho poético seguro, com paisagens reflexivas.
Desejo-lhe os maiores êxitos e sei que já começa a colhê-los.