À BEIRA DA TERCEIRA GUERRA MUNDIAL

É de uma cama hospitalar que dito esta crónica. Para vos avisar, mais uma vez, de que estamos com um problema.

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Marinka, Donbass, dia 4 de março de 2023

Quando há um ano a Rússia entrou pela Ucrânia adentro, foi uma surpresa para mim. Estávamos em plenos Jogos Olímpicos de inverno e todos pensávamos que seria a China a aproveitar o momento para invadir Taiwan.

Se a China invadisse Taiwan e, logo depois, a Rússia tivesse invadido a Ucrânia, não haveria condições para responder aos dois lados. Mas a China preferiu esperar para ver a reação do ocidente. Deixou para a Rússia as despesas da festa.

Quatro dias depois da Rússia ter invadido a Ucrânia, escrevi que Putin iria sofrer uma derrota humilhante. Se não se lembram, sigam este link para a crónica do dia 28 de fevereiro de 2022.

excerto da crónica MUITO CUIDADO com o HOMO LARAPIENS de 28 de fevereiro de 2022

Se leram essa crónica, repararam que também “adivinhei” que a guerra na Ucrânia iria provocar a união do ocidente, o reforço da NATO. Acertei em cheio, até ver. Além disso, ainda avancei com o eventual estilhaçar do império russo e os avanços oportunistas dos chineses e turcos sobre esses territórios. E, lentamente, estamos a assistir a esses movimentos. A geopolítica mundial está a mudar.

A Rússia não tem muitas opções, vive rodeada de inimigos e de falsos amigos. Neste momento, o que vemos é uma espécie de fuga em frente, aumentando o esforço de guerra, empenhada na destruição brutal do território que tenta conquistar para, mais tarde, lhe servir de moeda de troca.

Do lado de cá, durante meses assistimos à enorme lentidão no apoio militar à Ucrânia. Tudo muito lento, mitigado, dissimulado. A Ucrânia sempre a pedir mais armas e armas de maior poder de fogo e alcance. Os americanos fornecem o armamento, é um facto. Mas parecem mais empenhados em capacitar a Ucrânia para uma guerra longa e de desgaste do exército russo, do que propriamente na derrota rápida de Putin.

Cheguei a pensar que a aposta americana seria fomentar um golpe palaciano que derrubasse Putin e, em consequência, provocasse a desagregação da Rússia. Seja qual for a estratégia político-militar dos americanos, estamos num jogo muito perigoso. A opção nuclear não pode ser menosprezada. É verdade que metade da Rússia ficaria carbonizada na retaliação americana, mas a Europa também morrerá e a América, mesmo geograficamente distante, está ao alcance dos mísseis intercontinentais russos.

Na verdade, ninguém está preparado para um cenário dessa ordem. E por isso a guerra vai continuar a dilacerar a Ucrânia e a enfraquecer a Rússia. No campo de batalha, há uma espécie de empate técnico nos duelos de artilharia e nas tropas entrincheiradas.

Pelo seu lado, a China dedica-se a explorar os recursos naturais da Sibéria. A troco da neutralidade face à agressão, a China “ocupou” economicamente a Rússia. Substituiu as empresas ocidentais que saíram, comprou as empresas russas que estavam a falir.

“O problema da Europa está no desastre económico e no enfraquecimento dos regimes democráticos, na ascensão dos movimentos populistas fascistas que tentarão acabar com a democracia. Balançamos entre democracia e autocracia.”

Outro ator oportunista é a Índia que compra e revende o petróleo e gás russos que o ocidente sancionou, mas que adquire agora com a “etiqueta”  Made in India. Por isso a Índia não condena a invasão russa, posicionamento político que também serve para antagonizar a antiga potência colonial, a Inglaterra. Há muita coisa no passado dos povos que explica as atitudes do presente.

Na calha continua a invasão de Taiwan pela China. Perdida a oportunidade de coordenar o ataque contra a ilha separatista, com o avanço russo sobre a Ucrânia, a China vai esperar e continuar a reforçar a sua capacidade militar. Quando se decidir a atacar, deverá ser rápido e muito doloroso. O erro de cálculo de Putin não será repetido pelos que mandam em Pequim.

E nós, europeus, estamos nisto. O problema da Europa está no desastre económico e no enfraquecimento dos regimes democráticos, na ascensão dos movimentos populistas fascistas que tentarão acabar com a democracia. Balançamos entre democracia e autocracia. É mesmo um problema global. Basta olhar para políticos como Donald Trump, Jair Bolsonaro, Giorgia Meloni, Andrzej Duda, Viktor Orbán, Santiago Abascal, André Ventura, Vladimir Putin e outros que hão de chegar.

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