O livro dos livros

Alice Marques é professora, jornalista e escritora. Professora de História, jornalista nos jornais da Marinha Grande, escreve sobre a vida.

1
779

Escrever um livro só com um dedo é como dizer um longo discurso so-le-tr-an-do, sin-co-pan-do to-das as sí-la-bas de to-das as pa-la-vras. Demora tempo, mas faz-se. Este livro foi assim escrito.

Alice Marques começou a escrever o livro por mero acaso, pela necessidade de executar exercícios de terapia de motricidade fina, depois de dois acidentes vasculares cerebrais sucessivos. “Dei-me conta que começava a escrever, cada vez mais, memórias”, diz-nos Alice, a propósito deste “acaso” genial a que deu o título de “Volta à Vida em Vinte Livros”.

Dizer que é um somatório de recensões sobre os livros que mais a impressionaram, não é verdade. Dizer que se trata de uma autobiografia, não chega, mesmo se estão lá os amores e desamores da vida.

Mas é parte de uma espécie de corrida contra o tempo, na tentativa de cumprir anseios antigos e promessas por cumprir: “um dia cumpriria a promessa que fizera ao meu avô no seu leito de morte, quando lhe segurei a mão e senti a sua vida esvair-se num suspiro. Hei de escrever, avô, hei de ser jornalista, hei de ser escritora e, onde quer que estiveres, hás de orgulhar-te de mim.”

Não resistimos a uma graçola, quando lhe perguntámos se iria continuar a escrever, agora que fez o gosto ao dedo…  

“Escrever, quer à mão quer no telemóvel (só tenho uma mão minimamente funcional, e nesta só um dedo, o dedo que me liga ao mundo) foi um processo fisicamente muito doloroso. As boas memórias minoraram as dores”, conta-nos Alice. E é perante tamanha dificuldade física que a incerteza se agiganta: “Não sei se continuarei a escrever. De momento a minha situação física é ainda mais dolorosa. Continuo a precisar de todas as terapias. Também a da escrita. Porque quero viver. E não prevendo grande futuro, quero preservar as memórias.”

Alice Marques escreveu um belo livro sobre a vida. A vida dela e os 20 livros que mais a impressionaram ao longo desse tempo. É uma extraordinária maneira de se escrever uma autobiografia. E tudo começa na hora da quase-morte.

O livro de Alice Marques será apresentado ao mundo na Marinha Grande. Seria muito interessante que nem só os amigos dela lá estivessem.

1 comment

  1. Se não estivesse a fazer a apresentação de um livro em Lisboa, nesse mesmo dia e uma hora depois, faria o impossível para ir dar um abraço a Alice Marques.
    Seria um abraço de admiração pela força anímica, pela teimosia de vencer as adversidades que aparecem pelo caminho e por escrever tão bem.
    O livro não conheço, mas adivinho-lhe a excelência por este pequenino excerto e pelos textos que por aqui vou seguindo.
    E sou capaz de jurar que, um dia destes, ainda vamos celebrar outro livro (com a Alice a falar por toda a gente) e novas conquistas no seu processo de recuperação.
    Os maiores êxitos para este Volta à Vida em Vinte Livros e um dia 25 de Fevereiro cheio de surpresas boas.

Leave a reply

Please enter your comment!
Please enter your name here