365 DIAS DE GUERRA

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Um ano de guerra na Ucrânia serviu para confirmar que o futuro do jornalismo é vestir uma farda. Os americanos usam o termo “embeded” (incorporado) para definir o jornalista autorizado a reportar naquele lado do conflito. O pior é que, muitas vezes, o jornalista fica “soaked”, que é como quem diz embebido pela verdade única que lhe deram para transmitir. Com raríssimas exceções, nos últimos 365 dias o que nos foi dado a ver, ouvir e a ler, foi a versão unilateral dos acontecimentos. Ou seja, só os russos bombardeiam zonas urbanas, só os russos cometem atrocidades e crimes de guerra. Por opção editorial, certamente, os media portugueses têm sido obedientes a Zelensky e mais americanos que o próprio Biden e ninguém estranharia que o cenário de alguns telejornais fosse às riscas vermelhas e estrelinhas brancas.

Neste momento, no outro lado da guerra, estão dois jornalistas portugueses. Um freelancer e outro dos quadros da Antena-1, rádio do universo RTP. Há mais de 10 dias que não se vê nada feito pelo Bruno Amaral de Carvalho.

No site da CNN Portugal, o último trabalho de Bruno Amaral de Carvalho foi exibido dia 12 de fevereiro.

A ausência de Bruno Amaral de Carvalho da pantalha não será uma opção do próprio. Ainda hoje ele publicou na rede Telegram vários vídeos seus com o que está a acontecer em Donetsk.

O jornalista da Antena-1 não faz televisão, apenas rádio, mas tem trabalhado. Ontem, enviou um entrevista com o líder separatista de Donetsk, Denis Pushilin.

Sem imagens, o trabalho de Luís Peixoto perde-se na invisibilidade da rádio. O repórter apenas surgiu uma vez na pantalha para testemunhar o sentimento da população de Donetsk sobre a visita de Biden a Kiev. Não se percebe a demissão da RTP na cobertura equitativa dos dois lados da guerra.

Foi convencionado que deveriam ser rejeitadas todas as informações provenientes da Rússia ou que não fossem perfeitamente síncronas com os legítimos interesses defensivos da Ucrânia. Os órgãos de comunicação russos foram bloqueados, tanto quanto é possível bloquear a circulação de informação, mas o silencio sobre o que se passa no lado de lá da guerra é um lápis azul eficaz.

Ao contrário, nada se fez contra a disseminação de “notícias” destinadas a alimentar os trambolhos que pululam nas redes sociais entretidos a tecer cenários puramente inventados como, por exemplo, a doença terminal de Putin ou o rebentamento do gasoduto Nordstream ter sido ideia russa, só para não terem de vender gás à Alemanha.

Há uma campanha organizada contra todas as vozes que criticam os pontos de vista da NATO subscritos pela União Europeia. Ficou estabelecido que Zelensky é um democrata de longa data, o que está longe de ser provado. O jornalismo demitir-se destas questões é uma espécie de epitáfio na sua própria campa.

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