Por um cabelo se ganha por um cabelo se perde

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O Japão venceu a Espanha com um golo polémico. Com essa vitória acabou por expulsar a Alemanha do Mundial de Futebol. Bastava terem empatado, que os germânicos passariam à fase seguinte, indo os nipónicos para casa. 

A bola estava fora ou não? 

Apesar de no momento do lance eu e milhões de pessoas acharmos que sim, o facto é que ela não estava. Na altura senti-me incomodado. Presumo que não terei sido o único. Não porque sinta alguma afinidade com algum dos intervenientes. Só e  apenas porque pugno pela verdade desportiva, doa a quem doer, incluindo Portugal, com aquele penálti meio esquisito contra o Gana. 

Há uma nova realidade no futebol que já está a dar os seus frutos, levando-o a uma maior transparência, que é a tecnologia. Podemos gostar ou não. Eu gosto. E não me venham com a “estória” da beleza do futebol. Isto são tretas de quem não quer perder privilégios. O futebol sem verdade é um embuste, que, não poucas vezes conduziu à violência. Tem é de haver coerência nas decisões, e posteriormente consequências diante dos factos. Haja essa coragem e é meio caminho andado para que o futebol se mantenha vivo em todo mundo, como a maior competição desportiva do planeta Terra.

Eu vou dar dois exemplos, não muito diferentes do jogo de ontem, se bem que sem a complexidade de análise na jogada de ataque dos nipónicos, que lhes deu o golo da vitória.
O penálti que Portugal beneficiou contra o Gana, foi muito criticado por alguns árbitros. Até eu me senti pouco confortável. Gosto que Portugal ganhe, mas limpo. A crítica recaiu em especial sobre o VAR. O facto é que o árbitro que apitou esse jogo vai de novo estar em palco diante do Brasil com os Camarões. Presumo assim que depois de muitas análises, a Comissão Técnica da FIFA concluiu que era mesmo penálti, contra a opinião de alguns “analistas”, eu incluído, não sancionando o árbitro por essa decisão durante o jogo.

 No ano passado, no campeonato nacional de futebol, num dos jogos entre SLBenfica-FC Porto, os adeptos do clube da Luz insurgiram-se contra a anulação de um golo marcado pela sua equipa, por indicação do VAR, num fora de jogo de 2cm. Nesse jogo, penso que na capital, os do Norte saíram vitoriosos.
Já este ano, no Dragão, aconteceu o inverso. O árbitro anula um golo ao SLBenfica por fora de jogo, e o VAR repõe a verdade, validando o golo dos encarnados, por escassos centímetros, obrigando o árbitro a inverter a sua decisão. O SL Benfica ganhou no Porto. Os protestantes do jogo em Lisboa calaram-se. Os adeptos do clube da Invicta lá tiveram de meter a viola ao saco, ainda que contrariados, porque se vale num lado, tem de valer no outro. A tecnologia não tem afinidades. Tem linhas e planos de intercepção. 

Procurar dar transparência às competições desportivas, em especial o futebol, só pode trazer mais adeptos e não o inverso. E até os mais cépticos, por norma os mais privilegiados nas decisões, os chamados grandes, conformar-se-ão.  O futebol tem de seguir este caminho se quiser sobreviver como competição de massas e fenómeno mediático, ou um dia as coisas descambam, como já aconteceu no passado, para a violência. Ela vai acabar? Talvez não. Mas a razão é boa conselheira. Já o contrário é um passaporte para uma tragédia. 

Voltando ao jogo entre nuestros hermanos e os asiáticos. É verdade que o Japão é um grande país no plano económico. Mas no plano desportivo ainda está longe das grandes potências do futebol. Tal como Marrocos, Gana, Austrália e por aí fora. Eu também não tenho dúvidas que se não fosse a tecnologia, ontem, este golo seria anulado. Mas seria anulado por duas razões. A primeira, porque a bola nos parece estar fora. Até aí tudo bem. Mas o pior é que se ela até estivesse dentro, deixando alguma margem para jogos florais de bastidores, seria provavelmente anulado, porque o peso da Espanha na estrutura dirigente da FIFA é muito maior do que o Japão. Em caso de dúvida beneficia-se o mais forte. Foi assim no Mundial de Futebol de Inglaterra em 1966, contra Portugal. Foi assim no Mundial da Argentina e da Alemanha, ambos contra a Holanda.

No futebol não pode haver nobres e plebeus. Há apenas jogadores intervenientes numa competição. É isso que está a acontecer no Qatar. Talvez o facto do evento ter sido tão polémico, na sua localização, tenha obrigado a instituição que o dirige a querer dar mais verdade a tudo isto, salvando o que ainda resta. A competição. 

Espero que a tecnologia fique. Para sempre. E cada vez melhor. Que uma nova era no futebol floresça, dando esperança a países mais pequenos como Portugal, entre muitos outros, alguns já aqui citados, de um dia poderem erguer troféus como o do Campeonato do Mundo de Futebol, sem serem atropelados pelas máfias e oligarquias instaladas no dirigismo desportivo da FIFA. 

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