SNS – O virar da página?

- do livro mais precioso que a nossa geração nunca desistirá de preservar.

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Durante décadas, em conferências e inúmeros textos, e perante flagrantes erros, desvios e omissões que, paulatinamente, conduziam o nosso SNS ao despesismo e a uma evidente degradação, não hesitei em propor criteriosas medidas terapêuticas, nunca postas em prática.

No início do séc. XXI, já por demais diagnosticadas insustentáveis doenças crónicas, e embora a pregar no deserto, nunca desisti de apontar as patologias mais preocupantes do SNS: a não existência de planos diretores, a desarticulação entre os vários setores, a insensatez nos investimentos, a ascensão de gestores políticos inaptos, a humilhação e liquidação das carreiras dos profissionais de saúde, a proteção a lóbis privados, a opacidade de contratos milionários e até aquisições polémicas, de que os célebres ventiladores chineses serão o exemplo mais recente.  

Em março de 2020, perante o total descontrole, incompetência e nepotismo amplamente demonstrados por autoridades da Saúde alheias aos graves sintomas e sinais, subitamente agravados pela pandemia, atrevi-me a prever um triste desenlace a curto prazo, que sintetizei numa sugestiva metáfora: a “morte temida” do SNS.

Não governa quem usa e abusa do poder e da comunicação social, mas quem sabe… e quem pode. Com o nosso “doente” a necessitar de urgente reanimação, o país depressa assistiu ao protelar de atos médicos e ao impensável crescimento de listas de espera, que prenunciavam uma profunda deterioração do conjunto dos cuidados públicos de saúde.

Já com o SNS a entrar em “coma induzido”, e os tambores da guerra a rufarem, deu-se o inevitável rolar de cabeças e umas tantas ascensões dentro do Ministério da Saúde, que poderão começar a fazer toda a diferença.

Tendo pela frente uma difícil e espinhosa missão, o Ministro Manuel Pizarro é alguém reconhecido entre os seus pares pela qualidade do seu exercício profissional e adquiriu depois formação e experiência políticas invulgares, enquanto acumulava um profundo conhecimento da orgânica do Ministério da Saúde, hoje traduzido numa rara visão, clara, dialogante e inteligente, do universo do SNS.

Qualidades que poderão, ou não, fazer toda a diferença, até porque suporte político interno não lhe faltará, sendo certamente um dos ministros mais influentes. Resta saber se terá capacidade e coragem para “arrumar uma casa” que a impoluta Joana Marques Vidal, em 2011, apontava como um dos centros de preocupação da Justiça, em Portugal.

Já sem forças para abandonar o leito, e numa derradeira alusão ao também saudoso António Arnaut, o inconformado socialista Prof. Carlos Carranca deixou-nos uma reflexão lapidar, que traduz bem o pensamento que enformou a recém-conquistada, mas efémera, maioria absoluta: O SNS é património do PS, se este o sonhar, respeitar e defender.  

Com a esperança média de vida a decair pela primeira vez desde que há registos, e dados estatísticos oficiais a recuar décadas, os portugueses atentos, e que bem conhecem as maleitas a corrigir, só podem desejar bom sucesso ao novo Ministro da Saúde.

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