Com a pandemia, a seca, os fogos, a guerra e a inflação a afligir muita gente desprovida de resiliência, as recentes sondagens indiciam uma inesperada descrença na nossa excelente governação.

Um contrassenso, se atentarmos que, pondo de fora, entre outras inevitabilidades, a crise do SNS, SS, Educação e Cultura, Agricultura e Pescas, Cibersegurança e Justiça, vivemos em boa paz social e nos sobra desporto, festas e trabalheira que até permitiram eleger recentemente uma maioria absoluta, que nos anuncia obras sem precedentes e um grande pacote de promessas redentoras.
Sã democracia esta de brandos costumes, que estende as suas mãos largas a todos os poderes instituídos que bem convivem à mesa do orçamento e que merecia outro respeito e consideração. Pois se até o principal partido da oposição é chamado a definir as grandes orientações lusitanas! Santo Governo este, em que só leva sopa quem merece…
Depois de profunda e sentida análise sobre tão estranho fenómeno, sou levado a concluir que tamanha ingratidão só pode residir em graves falhas de comunicação. O povinho ignora, por completo, medidas fundamentais que irão agilizar a ação futura de todos os que que, com as suas tribos, tão abnegadamente servem o país.
Entre muitas outras decisões de grande utilidade pública, e que poderiam beneficiar a imagem da classe política, não posso deixar de manifestar a minha estranheza perante o silêncio a que foram votados vários diplomas magistrais, que até uma comunicação social insuspeita, como a nossa, desprezou.
Excelente notícia, e em sede de AR, cito a título de exemplo que, sob proposta de duas influentes deputadas indicadas pelos líderes dos dois principais partidos, e por certo sob beneplácito régio, a generalidade da nossa população ignora a aprovação de dois pacotes de regulamentos, tendentes a eliminar a eficácia de mais uma excrescência da nossa democracia, ao caso o Ticão.
Tratamento de urgência no encerrar para férias, o primeiro desses diplomas teve vida curta, ao impor medidas terapêuticas tão enérgicas que até comprometeriam, ou poriam mesmo fim, a cerca de 90% dos processos judiciais em curso no nosso país. A não ser que se optasse pela redistribuição de quase todos os juízes que, “deslocados de guerra” como os reles médicos e professores, sempre teriam liberdade para emigrar de comarca… ou de país.
Tão radical prescrição levantou, contudo, uma injustificada e incompreensível celeuma que, prontamente abafada por novo e brilhante receituário, depressa veio acudir às preocupações de centenas de cidadãos portugueses. Todos eles acima de qualquer suspeita, e muitos até detentores de altas comendas e prebendas, que, há muitos anos, estão a ser indecorosamente incriminados em processos indignos, lavra de gentinha paranoica e sem princípios, a quem lautamente pagamos.
Corrigido o primeiro diploma pela AR, agora mais à medida do Ticão, tais iniciativas mais não visam do que repor Justiça e promover a amnistia geral destas vítimas inocentes, quiçá mesmo abrir-lhes caminho ao pedido de uma pesada indemnização, justamente devida pelo arrastar de tenebrosos processos judiciais, sem fundamento.
Para, no final, com o povinho sem bufar e a pagar as favas como de costume pelos erros alheios, essa gentalha antipatriótica dos Tribunais ainda se safar da prisão…