Os “segredos” de Ximenes Belo, bispo de Dili, padre católico, foram escondidos por vergonha e por subserviência dos timorenses. Todos sabem do que se passou, mas ninguém falou. Até agora. A vergonha não se baseia apenas no facto de Ximenes Belo ser padre, mas também por ser um dos heróis da independência do país, da resistência contra a Indonésia, razões que justificaram a obtenção do Prémio Nobel da Paz em1996, pelo seu trabalho “em prol de uma solução justa e pacífica para o conflito em Timor-Leste”. Era um homem amigo dos poderosos.
Mas agora, depois do De Groene Amsterdammer ter publicado duas denúncias de homens que, em criança, foram sexualmente abusados por Ximenes Belo, pode ser que as línguas se desatem.
O jornal ouviu várias vítimas e pessoas com conhecimento do caso, incluindo “individualidades, membros do Governo, políticos, funcionários de organizações da sociedade civil e elementos da Igreja”.
Em Timor, há muito que se diz que a verdadeira razão de Ximenes Belo ter abandonado o país de repente, em 2002, foi a necessidade de salvar a vida perante a ameaça de familiares de uma vítima de abuso sexual. Mas era sempre uma conversa de “ouvi dizer”, sem referências concretas, facilmente negada ou ignorada por governantes ou responsáveis da Igreja Católica.
Ximenes Belo anunciou a resignação do cargo, alegando, problemas de saúde e a necessidade de um longo período de recuperação. “Estou a sofrer de fadiga mental e física, o que requer um longo período de recuperação”, referiu Ximenes Belo num comunicado em que informava ter escrito à Santa Sé solicitando a renúncia do cargo de Administrador Apostólico de Díli, função que exercia desde 1983.
Desde 2002 que Ximenes Belo vive em Portugal. Aqui se refugiou do perigo das ameaças, embora seja difícil encontrar refúgio seguro para a má consciência e para o escândalo que rebenta como uma bomba relógio.
O jornal holandês refere que os alegados abusos terão começado ainda antes de Ximenes Belo ser nomeado bispo, quando ainda era superior nos Salesianos de Dom Bosco, e Díli, na década de 1980.
Os timorenses citados no artigo referem alegados abusos cometidos na década de 1990. Hoje com 42 anos, Paulo, como uma das vítimas é identificado, alega que quando ainda era menor foi alvo de abusos sexuais na casa de Ximenes Belo, por troca de dinheiro.
As primeiras denúncias foram feitas ainda antes de Ximenes belo ter abandonado Timor-Leste, numa época em que a Igreja católica tinha enorme influência sobre a população e mesmo sobre os governantes timorenses. Influência que, de resto, ainda hoje mantém.
Nas atuais circunstâncias, com um papa a sanear todos os crimes e abusos sexuais perpetrados por clérigos, em todo o mundo, Ximenes Belo não terá mais a proteção de que beneficiou até hoje.