O JORNALISMO QUE NÃO SE FAZ

No ocidente, a guerra na Ucrânia não é apenas tema de abordagem jornalística. Há quem faça notícias, mas tanto se publicam rumores como se produzem falsidades. A questão não é só ideológica. É de obediência.

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As notícias sobre guerras são sempre um pouco exageradas. O jornalismo tende cada vez mais para o sensacionalismo, perante a necessidade de vender a um público pulverizado por inúmeras fontes de informação na net.

Nos noticiários ouvimos falar em milhares de fugitivos que saem da Rússia pelas diferentes fronteiras do país, para não serem mobilizados. Mas a informação não é contextualizada. Não nos dizem quantos milhares, nem conseguimos saber se são muitos ou poucos, em termos relativos. A Rússia é o maior país do mundo, em área, mas terá apenas 146 milhões de habitantes, a acreditar no countrymeters.info consultado quando este artigo foi escrito.

fonte População da Federação Russa 2022 (countrymeters.info)

Os números valem o que valem, mas podem dar uma ideia do custo político de uma decisão governamental.

Os desertores portugueses

Por exemplo, quando Salazar decidiu ir “para Angola e em força”, na sequência dos primeiros ataques dos grupos independentistas, a sociedade portuguesa também experimentou sentimentos antagónicos: revolta e medo, voluntarismo e oposição, sacrifício e deserção.

Salazar, quando declarava guerra nas colónias africanas

Somos um país pequeno, com uma população diminuta. Hoje somos 10 milhões, em 1960 seriamos 8 milhões e 800 mil.

Miguel Cardina no artigo “A deserção à guerra colonial: história, memória e política”, publicado em 1988 na Revista de História das Ideias, diz-nos que entre 1961 e 1974 (13 anos de guerra em três frentes africanas – Angola, Moçambique e Guiné-Bissau), registaram-se 9 mil deserções (soldados que fugiram), e cerca de 200 mil mancebos faltaram à inspeção militar. Números que rondam os 20% do total de jovens que foram chamados para cumprir o serviço militar obrigatório em vigor em Portugal, naquela época. É um número pesado, representativo do repúdio social por aquela guerra.

A sociedade portuguesa nunca sofreu o “bullying” da propaganda política e ideológica que hoje se exerce sobre os antagonistas na guerra da Ucrânia. Naquela época não havia redes sociais e era fácil isolar um país da influência estrangeira.

Quanto à guerra na Ucrânia, não sabemos ainda a dimensão desse repúdio na sociedade russa. Quando na SIC, por exemplo, nos dizem que “milhares de pessoas tentam fugir da Rússia com medo de serem enviados para a guerra”, deviam-nos dizer quantos milhares, quantos homens em idade de combater, quantas mulheres e quantas crianças. Dizer “milhares” apenas, não chega.

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