A Comissão Europeia já admite vir a protelar a decisão de “matar” os motores de combustão até 2035. Tudo indica que a pressão dos lóbis da indústria automóvel e dos combustíveis fósseis está a conseguir parar o processo de transição.
A Comissão anunciou que vai rever o processo e admite a introdução de uma fase transitória muito mais alargada e com a introdução de combustíveis sintéticos, uma novidade algo inesperada.
Os combustíveis sintéticos são produzidos a partir de biomassa, matéria de origem vegetal. O problema deste tipo de combustível é que obriga a afetar campos agrícolas para essa produção de biomassa. Passaremos a ter agricultores de biomassa em vez de alimentos para humanos ou animais.
Em termos ecológicos, a produção em larga escala de biomassa implica a introdução de métodos de agricultura intensiva, em grandes áreas de cultivo, o que torna o processo bastante oneroso em termos de consumo de água.
Estamos perante uma ideia que, se for implementada, vai ser um novo maná para as multinacionais do setor agrícola, adubos e pesticidas.
A introdução dos combustíveis sintéticos vai permitir que continuem em circulação cerca de 300 milhões de automóveis com motores de combustão, só na Europa. E permite a utilização da mesma rede de distribuição e venda ao público que já existe para os combustíveis fósseis.
Outra questão que não é de desprezar, é a manutenção de cerca de 15 milhões de empregos que o setor automóvel sustenta, desde a produção, à comercialização, seja de veículos ou de combustíveis.
A transição para motores elétricos é um problema difícil de resolver em alguns setores, nomeadamente nos transportes aéreos e marítimos. E a descarbonização industrial é ainda mais difícil de alcançar. O desenvolvimento dos combustíveis sintéticos é, agora, uma esperança para evitar uma revolução nesses setores.
O preço dos combustíveis sintéticos depende da escala de utilização, mas se os 300 milhões de automóveis com motores de combustão continuarem a circular, essa escala está garantida.
A questão da dependência dos Estados perante os produtores de combustíveis já é outra conversa. Só economias muito industrializadas e tecnologicamente avançadas poderão sonhar em produzir grandes quantidades desse tipo de combustíveis, enquanto que a eletricidade é mais acessível a todos, principalmente se tiver origem em fontes de energia renovável, como a solar ou a eólica.
A discussão continua, mas se a mobilidade elétrica deixa de ser uma emergência, já a crise climática continua a ser.